No MAB
Desde o dia 02 de janeiro de 2017 a região leste de Minas Gerais convive com um surto de Febra Amarela que já provocou 7 mortes. Outros 46 óbitos suspeitos aguardam confirmação. O Governo do Estado de Minas Gerais decretou situação de emergência em 152 cidades.
Entre as muitas razões que provocam os desequilíbrios ambientais que deixam as populações urbanas vulneráveis a uma doença erradica em 1942 está o avanço irresponsável da mineração e os crimes ambientais que ela provoca como o rompimento da barragem de Fundão. Segundo informações da professora Marcia Chame, pesquisadora de saúde silvestre da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o rompimento da barragem de propriedade da Samarco (Vale\BHP Billiton), que derramou mais de 60 milhões de metros cúbicos de rejeito por mais de 620 km de cursos d´gua, pode ser um dos responsáveis pelo agravamento da surto.
Os atingidos pela Samarco já enfrentam muitas situações de adoecimentos relacionados ao rompimento. Problemas de pele, respiratórios e de estômago já foram registrados em todas as regiões onde atuamos. O caso mais evidente é na cidade de Barra Longa que registou mais de 400 casos de dengue em 2016 depois de registrar 3 casos nos três anos anteriores. Além disto, a poeira do rejeito e do canteiro de obras adoeceu muitas pessoas com as mais diversas alergias.
Como resposta a esta situação, criamos o Coletivo de Saúde que reúne moradores para discutir este problema, organizar a pauta de reinvindicações e lutar pela garantia do direito a saúde dos atingidos. Parte das constatações deste trabalho está na Carta dos Atingidos pela Samarco pelo Direito à Saúde escrita pelos próprios atingidos.
Diante deste cenário, o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) defende uma imediata investigação independente sobre esta possível relação do rompimento com a Febre Amarela bem como sobre outros impactos que podem ser causados pela contaminação das águas, dos solos, do ar, etc. Além disto, reivindicamos Assessorias Técnicas da confiança dos atingidos que, com apoio dos melhores centros de pesquisa, devem atuar para informar as famílias e indicar ações que garantam a saúde dos atingidos no campo e na cidade.
Ao mesmo tempo, as populações devem intensificar a luta pelo direito à saúde em todas as regiões onde se instalam grandes empreendimentos, cobrar ações firmes do Estado brasileiro para implantar políticas específicas para comunidades atingidas bem como a ampliação do SUS que deve garantir a vacinação ampla contra a Febre Amarela onde for necessário.
É inadmissível que homens e mulheres ainda morram por causa de doenças já erradicadas que voltam a atingir as famílias por causa da irresponsabilidade de grandes empresas e seus crimes ambientais. Levar informação, organizar o povo e lutar por um novo modelo de desenvolvimento torna-se uma tarefa cada dia mais urgente.
Água, energia e saúde não são mercadorias!