Sobre minha avó, eu mesma e o orgulho de ser Puri neste 19 de abril

Por: Raial Orotu Puri – Crônicas Indigenistas

Ser Puri
É mais ou menos isso:
Verde que busque o daquela pitaya.
Adaptada e feliz em Ser.
Ou quase…
E quando penso em ser Puri
Quanto estou entre outros de mim
Sinto pulsar a nossa valentia
Penso em meu pai…
Em sua história de sobrinho de alfaiate e filho daquela índia…
Minha avó!
Eu mesma!
Nos perdemos de nós
E aí está a nossa covardia
Em se deixar perder
…essa coragem que tudo o que se sabe folha tem.
A mim não ofende ser chamada covarde!
Porque não me ofende ser.
Quem sabe de sua coragem sabe de seus limites
Que possamos estar juntos para nos saber melhor e mais fortes do que pensávamos.
Somos!
(Poema de Tuschahi Puri)

Às vezes algumas coincidências chegam a ser irritantemente boas. Uma dessas é o fato de ‘meu dia de escrever’, a quarta-feira, caia justamente no dia 19 de abril. (Outra é que hoje é aniversário da grande divindade perspectivista da antropologia brasileira, Eduardo Viveiros de Castro – a quem desejo meus sinceros parabéns, a propósito). Vai daí, que escrever nesse dia, estando sempre dizendo e redizendo o quanto esta data de calendário diz muito pouco, e representa muito pouco, para quem tem de lutar pra ser todo dia, e todo dia precisa provar que ainda existe, é realmente uma ironia impagável, dessas que merecem que a gente escreva um texto a respeito. Pois bem, eis o texto.

Abril me parece um mês bastante peculiar, como já fiz notar em meus dois textos anteriores… Eventos, eventos, eventos, e mais eventos; acontecimentos, mobilizações, protestos, boas notícias, péssimas notícias. Moções, mais protestos, cartas abertas e fechadas, repúdios. O tema, invariavelmente, é a resistência, é a luta, é a causa. Indígena. No meio “desses trens tudo”, várias de triste memória, acontecem as vezes algumas coisas de fato bacanas de se viver, e quero falar de algumas delas, as que dizem respeito a meu povo em específico, os Puri. Mas que certamente também encontraram ressonância na vivência de outros tantos.

Ao longo deste mês estive trabalhando na preparação de legendas para um conjunto de vídeos para compor um material audiovisual interativo que irá figurar em uma exposição a ser inaugurada em breve no Museu de Arte do Rio de Janeiro – MAR, e do qual tomarão parte os Puri e outros povos indígenas*. O material em questão se trata de um conjunto formado por depoimentos sobre trajetórias de vida, bem como poemas e canções compostas e interpretadas por alguns dos meus parentes.

De todo o material lido, transcrito e legendado, o que mais me cativou foi o Poema “Ser Puri”, da minha amada-demais-da-conta-sô Tuschahi, que uso como preâmbulo para este texto. Acredito que este poema guarda em si a potência de ‘dizer tudo’: Tudo o que precisava ser dito sobre tudo o que podia ser pensado, sobre este povo que é o meu povo, um povo apelidado de tantas coisas, (de pequeno, de feio, de miúdo, até de covarde!), um povo sobre o qual muito já falaram a respeito, quase sempre no passado, mas que agora levanta e fala por si. Presente! E, ao trabalhar nesse material, entre a totalidade do poema e os nuances da fala de cada um, algo que fica muito evidente é que as histórias são bastante diversas, ao mesmo tempo em que possuem uma notável semelhança umas com as outras: vez ou outra aparece o verde, e há sempre a avó.

Para melhor ilustrar a questão, quero narrar ainda mais dois casos.

No dia 06 de abril aconteceu no Acre o já citado I Seminário de Saúde Indígena, o qual abordei em meu texto da semana passada. No entanto, nele aconteceu algo que deixei de contar: é que lá pelas tantas, no intervalo entre as palestras, um dos espectadores aproximou-se de do grupo de indígenas, todos sentados juntos, para trocar impressões sobre as falas ouvidas pela manhã. E aí, papo vem, sotaque meio mineiro/meio carioca, papo vai, eis que o moço comenta: “Pois então, eu também sei que sou meio índio… imagine, minha avó, me contaram que ela foi pega no laço, quer dizer, a gente sabe o que isso quer dizer, né? Pelo visto meu avô foi o primeiro estuprador da família… Eu nem o nome dela sei… só fui saber mais disso quando era moço, e já estava trabalhando com indígenas, daí uma vez conversei com um amigo historiador, e ele me falou que a região de onde essa avó vinha era de um povo que já está extinto hoje em dia, os Puri”. O que se desenrolou daí foi entre ‘opa, pera!’, apresentações e uma conversa sobre ‘uai, cabô não, moço!”, que rendeu uma troca de contatos e o registro da existência de mais um Puri perdido e achado pelas quebradas da vida. Esse, médico, e atualmente radicado no estado de Roraima.

Dia seguinte, 07 de abril, ocorreu o lançamento da Coletânea de CDs “Documentos Sonoros”, um trabalho – lindo! – realizado pela Comissão Pró índio do Acre, com patrocínio do IPHAN. A noite, que já era festiva em si mesma, veio acrescido com a satisfação de finalmente conhecer pessoalmente Alexandre Anselmo, músico talentosíssimo e meu duplamente parente, visto que nossas avós Puri receberam até o mesmo sobrenome, Baia.

Tiramos fotos. Postei no face felicíssima com tão grato encontro. Vai daí que o comentário de uma amiga que viu a dita foto foi “menina, os Puri são tudo assim, loiro é?” Pois bem… Ainda que bastasse responder apenas ‘não, não são’, ou que eu pudesse desenvolver dizendo que tem Puri loiro sarará feito eu, e que tem Puri negro, tem aqueles Puri daquele tom de pele específico do meu pai, a ‘cor de cuia’ (expressão que caminha junto com uma porção de adjetivos, e é indissociável de sua conotação racista…). Bom, e posso dizer também que, ora veja só: até tem vários Puri de cabelo preto lisinho, os quais possuem bastante passabilidade**.
Mas a verdade é que a resposta não é tão simples assim…

Não é simples, porque tem a ver com o fato do ISA (Instituto Socioambiental) ter lançado mais uma linda publicação neste mês de abril, a 12ª edição do livro que reúne informações sobre as 252 etnias indígenas reconhecidas hoje no Brasil. Pois bem, eis que na matéria que divulga o lançamento, o primeiro comentador da reportagem fez um pio e pretensamente agradável comentário sobre o movimento inescapável de desaparecimento de todas as nações indígenas remanescentes, arrematando por fim com a sua preocupação para que a assimilação à sociedade nacional fosse feita da maneira mais tranquila possível. Que ótima pessoa essa, não é mesmo? Não. Não é. Mesmo. Impressionante a certeza inabalável que os raion têm acerca do fracasso dos povos originários, e do sucesso total da sua sociedade! É como se realmente essa sociedade hipócrita, cruel e mesquinha fosse um lindo e desejável modelo, um exemplo de civilização perfeita, que todos nós, os pobres incultos bárbaros estivéssemos almejando por alcançar e fazer parte. Aham, só que nunca!

Não é simples, porque o comentário pio do comentador bonzinho sobre a recepção tranquila dos bárbaros incultos à pretensamente tão acessível, aberta e acolhedora sociedade branca, me fez recordar da certidão de óbito imposta ao meu povo, que, estando vivo, foi declarado morto, a fim de melhor possibilitar o acesso às terras cobiçadas debaixo de seus pés. É por conta dessa declaração de morte em vida, que volta e meia sou confrontada com falas, como a do meu desavisado parente reencontrado, que achava que seu povo, nosso povo, já tinha se acabado.

Não é simples, porque eu tive de contar para um parente vivo que eu tô viva, e ele também. E porque tive de contar para ele que, há 517 anos somos resistência, e seguimos lutando.

Não é simples, porque ainda ontem, eu lia o depoimento de uma amiga no facebook, que dizia que muitas pessoas se afastaram dela quando ela resolveu se assumir indígena. Sorri tristemente para mim mesma, ao reconhecer muitas vozes naquele relato, ao saber que ela não está sozinha em suas constatações e sentimentos. Pois sim, vivemos em uma sociedade hipocritamente preconceituosa, que tece louvações às pessoas que guardam sua ancestralidade, desde que ela seja bem branca, bem europeia, bem fluente no alemão ou no italiano, bem cristã, bem civilizada. Ouse você reivindicar-se negro ou indígena para ver com quantas pedras na mão sua auto-identificação será recebida!

Não é simples, porque tempos atrás, conversei com essa mesma amiga, e ela me falou das dificuldades pessoais dela em buscar sua ancestralidade, devida ao apagamento histórico que a presença indígena sofreu em sua região – em todas elas… – do país, fazendo com que seja muito complicado obter informações fidedignas acerca dos povos que ali habitavam, e a partir daí traçar os fios e conexões que a liguem a seu passado ancestral. E por qual motivo é assim, senão o fato de vivermos em um país que pretendeu, com todas as suas forças que nada que não fosse branco e importado da Europa sobrevivesse? Não digo que não existam outras forças em operação aqui. É claro que o embate entre a memória escrita e a transmissão oral de conhecimento é desigual, e isso tem consequências. No entanto, também não se pode assumir ingenuamente que, caso a memória indígena e negra tivessem o mesmo peso e valor que é dado à ‘cultura branca’, esse processo de hierarquização e diferença não teria ocorrido. Teria, porque não se trata da mera escolha entre um método pretensamente mais eficaz de retenção da memória.

Na verdade, nesse mundo racista, não existe a hipótese da equivalência; Lembrando que existem ainda no mundo diversas sociedades ágrafas, e elas não necessariamente vivem processos de aniquilação e preterimento em detrimento de outras onde a escrita se faz presente. Não, não se trata da diferença entre dominar a escrita ou não… Se trata de preconceito étnico mesmo. Se trata de um mundo que efetivamente separa entre viáveis e inviáveis. Se trata de um mundo que me diz que estou morta. Se trata de um mundo que diz com tranquilidade que, se ainda não desaparecemos, cedo ou tarde o faremos.

E, por fim, responder à questão, não é simples porque tem a ver com aquela minha avó, que no meu caso não é uma só, são duas, ou três. Tem a ver com a avó dos outros dois parentes que conheci na primeira semana de abril. Tem a ver com todas as avós de Minas Gerais, e do Rio de Janeiro, e, também do Paraná, de Santa Catarina, do Rio Grande do Sul, de Goiás, do Mato Grosso (os dois), de São Paulo, e do Norte e Nordeste inteiros… Tem a ver com a avó do Brasil. E tem também a ver com o avô. Aquele, que muito provavelmente não foi o primeiro estuprador da família, de quaisquer famílias. E que infelizmente tem também grandes chances de não ser o único da família, de quaisquer famílias.

E antes que eu seja acusada de ingrata, louca e desnaturada, cabe advertir que eu não estou aqui neste texto escrevendo uma peça de acusação, nem apontando a cadeira de réu ao meu ilustríssimo bisavô Arnon Friedrick Carl Karlson, o sueco que estudou na Alemanha e veio parar no Brasil, fugido das mesmas perseguições e guerras que empurraram para essas mesmas terras levas várias de imigrantes. Até onde posso saber dele, me parece que ele até era um cara legal. Não sei com certeza, mas até onde posso confiar nas memórias familiares sobre ele, ao que tudo indica, ele não fez parte ativa na caçada a mulheres indígenas que parece ter sido muito corriqueira durante os primeiros séculos de invasão. O que me incomoda neste momento, e incomodou em vários momentos da minha vida, é que eu sei muitas coisas sobre meu único ancestral branco com pedigree europeu, esse que eu nunca conheci, mas de quem herdei os matizes de pele e cabelo, ainda que devidamente temperadas pelos genes e sangues de tantos outros. E aí é que está a questão: foram tantos! Outros e outras. Mas esses, onde estão?

E é por isso que estou aqui sim para escrever uma grande peça acusatória contra toda uma sociedade racista que dá tantas condições para que as memórias de um ancestral sejam tão exaustivamente lembradas, com tantas minúcias e detalhes, mas que nada retenha de particular a respeito da história de uma mulher, basicamente porque essa mulher era a indígena.

“Minha avó. Eu mesma!”

Minha bisavó paterna. Puri. Dela, pouco sei além do que seu nome. E ainda posso mesmo me vangloriar, porque sei o nome dela, quando da maioria, sequer isso foi registrado. E sei que ela “foi pega no laço”, ou seja, foi estuprada. E é tudo o que sei.

E o que disse da bisavó paterna, pode ser dito também da materna. Mesma história; outro cenário.

Do meu avô, ou bisavô, o que era branco, tem nome, tem sobrenome, tem lugar de onde veio, tem profissão, tem árvore genealógica, tem teoria de que era judeu, tem até foto esmaecida no álbum de família. Tem o nome dele entre os fundadores daquela cidade, tem um baú cheio de cartas que ele trocava com o pai guardada no sótão da casa de uma tia, tem a letra dele em elaborada caligrafia com caneta de pela, tem o documento de casamento, tem registro de terras; tem alguns ditos célebres repetidos pela família, geração após geração. Tem um tio com um nome em homenagem a ele, tem as pessoas dizerem que esse ou aquele primo puxou deles os olhos azuis. Tem aqueles que pretendiam requerer cidadania, e os que defendiam a teoria de que era preciso ir até a Europa, afim de verificar e reivindicar uma possível herança.

Do outro bisavô, o que era negro, só sei mesmo que era negro, portanto, que foi escravizado. Hoje em dia, através do que a história nos faz saber, sei também que aquela avó, junto com outras tantas avós pode ter sido obrigada a gerar filhos desse escravo, e que esses filhos que deles nasciam eram “negros da terra”, e sei que isso era um recurso engenhoso para burlar a proibição ao tráfico de escravos da África. (A engenhosidade mórbida dos brancos sempre foi notavelmente pródiga, não é mesmo?) História, dados, fatos, só se começa a ter mais tarde, daquilo que um ia contando pro outro, mas tudo esparso, difícil, cheio de silêncios e dores.

Os produtos dessa história são os Puri de hoje, que guardam em suas peles, cabelos e memórias, os ecos da violência imposta pela “colonização”, mas que ousam fazer disso a sua marca de resistência, a persistência em dizer que permanecem vivos, que são sim, e continuam sendo, Puri, porque assim se reconhecem e se reivindicam, porque é assim, e somente assim, que a vida encontra sentido.

Essa narrativa soa familiar para você que me lê? Pois é… seja bem-vindo à história de uma família tipicamente brasileira!

Isto porque a história desse país, como já dito por diversos historiadores, foi construída mediante o estupro de milhares de mulheres indígenas e negras, e, dentre elas, estava a minha avó, aquela ‘pega no laço’, a respeito de quem contam que, apesar de muito jovem, doze, treze anos no máximo, e de ser pequenina, era tão brava e arisca que só foi ‘contida’ por dez homens. Contida… O Português é mesmo uma língua cheia de recursos, não? Não fosse assim, penso que dessas mulheres tão bravas, tão fortes, e tão sofridas não haveria restado nem mesmo a breve menção velada à violência que as introduziu na família.

E óbvio: não existe nada de necessariamente errado em se ter orgulho de um ancestral específico, mas que não seja simplesmente porque ele era branco. Por favor! Hoje, depois de muitos embates pessoais, creio já ter feito as pazes com o ‘vovô Fritz’, exceto quando fico com o nariz em carne viva por conta do sol. Sei que ele está no meu passado, mas o fato de aceita-lo não significa que o louvarei, ou o carregarei como estandarte. Há tempos, fiz minha escolha. Escolhi o que o conhecimento me trouxe, a continuidade matrilinear que reside nessas mulheres, essas Puri que me fazem também Puri, pelo sangue que flui em mim, advindo delas, geração após geração. Escolhi a identidade que gritou mais alto, que já ecoava desde o passado, mesmo antes de eu saber tudo que hoje sei. Talvez ainda o mesmo grito Dela. Essa, que eu nunca conheci, mas a quem tantas vezes ouvi gritar sua dor. Esse grito, que um dia, também foi o meu. (“Minha avó. Eu mesma!”)

E eu espero que essas tantas pessoas que volta e meia cruzam a minha vida e dizer que são ‘meio índios’ por conta de uma certa avó pega no laço, que possam, se quiserem, ir atrás dessa ancestralidade. Não quero aqui defender que todos se reivindiquem indígenas, ainda que eu acredite que, se o Brasil se visse assim, muitos problemas poderiam ser resolvidos, ou, pelo menos, enfrentados de um outro ponto de vista. O que defendo é apenas isso: menos hipocrisia. Menos racismo. Mais consciência do lugar em que vivemos. Das raízes verdadeiras desse país. Mais respeito para com aqueles que já estavam aqui.

Desejo com isso que seja possível se orgulhar dessas tantas avós pegas no laço. Que seja possível se orgulhar de sua resistência, do fato de terem guardado consigo tesouros imensos, como as cantigas na língua, os nomes tradicionais, as ervas, os remédios, os lugares sagrados, as histórias de violência, de luta, as palavras, o renascer e o seguir vivendo. Que seja possível se orgulhar por todas as vezes que elas sussurraram baixinho o que agora ousamos que seja dito em voz alta: que não, não acabamos. Que não, não somos mestiços. Que não, não morremos. Guaima Thamathin!

Enfim… Felizmente, os Puri não são todos loiros. Até porque, na verdade, os Puri são verdes. (Mas isso fica para um outro dia…)
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* Agende-se: no dia 16 de maio será aberta a exposição no MAR do Rio de Janeiro, que contará com mostras sobre os Puri, Pataxó, Guarani e os diversos povos que habitam a Aldeia Vertical. Em breve daremos mais detalhes!

* *Com todo o respeito, peço licença às pessoas trans para emprestar uma de suas expressões, para falar de uma questão parecida, para dizer das pessoas indígenas que possuem maior semelhança com um determinado ideal fenotípico pelo qual o senso comum identifica a ‘cara de índio’. Assim como no caso das pessoas trans, a passabilidade não é o que determina quem é, e quem deixa de ser, porque ser indígena é mais, bem mais do que possuir determinados traços.

E agora uma nota sobre a nota: Sei que são universos muito distintos, e que existem pautas que não têm correspondência, não veja a luta das mulheres e dos homens trans de forma tão diversa da luta dos indígenas por reconhecimento: frequentemente, tantos elas e eles quanto nós indígenas temos nossas identidades e direitos negados, questionados e relativizados. Nós, eles e elas, somos frequentemente vítimas de apagamentos, invisibilidade e marginalização. E, no mais, se existe algo que sei de sobra enquanto indígena, é que gênero, corpo e até humanidade são construídas, e não necessariamente definitivas.

Imagem: Petterson Silva

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