Trabalhador do Rio Grande do Sul conta como foi o processo de luta no Assentamento Conquista da Liberdade. Ele é um dos 800 produtores que participaram da Feira da Reforma Agrária
Por Leonardo Fernandes
Da Página do MST
O nome do assentamento onde vive Adelar Preto, 51 anos, é Conquista da Liberdade. Nenhum outro poderia resumir tão bem o que significou ocupar a terra, no município de Piratini, Rio Grande do Sul, há 26 anos.
Adelar narra sem saudades daquele tempo de governo neoliberal, que enfrentou os trabalhadores Sem Terra de maneira truculenta. “Acampei em 1989, fiquei dois anos e meio na lona. Foram muitos processos de luta. Nós pegamos o governo de Fernando Collor de Melo, que foi muito duro com a gente. No Rio Grande do Sul, foi o único assentamento feito pelo governo Collor, depois de muita pressão, de ter inclusive alguns companheiros mortos”.
Hoje a realidade é outra. “Graças à luta do MST, hoje nós temos várias agroindústrias no estado, como a indústria do leite e derivados”, disse.
Mais de duas décadas depois da derrubada da cerca, as 48 famílias do assentamento Conquista da Liberdade se orgulham de integrar uma rede de assentamentos gaúchos que são os maiores produtores de arroz orgânico da América Latina. “Só é possível produzir alimentos com essa diversidade, e com a qualidade orgânica, sem agrotóxicos, se for pela via da pequena agricultura, dos assentamentos. Podemos dizer que a Reforma Agrária é essencial, não só para a geração de renda das famílias produtoras, mas para a própria economia”, afirmou Preto, que também destaca a diferença da agricultura familiar e do agronegócio. “O modelo do agronegócio produz cinco produtos. Não estão preocupados em produzir alimentos. O que eles produzem é uma ração alimentar”.
Para a 2ª Feira Nacional da Reforma Agrária, a delegação do Rio Grande do Sul levou ao Parque da Água Branca, em São Paulo, nada menos que 24 toneladas, de 55 variedades de produtos saudáveis, produzidos nos assentamentos da Reforma Agrária no estado.
Adelar explica que tamanha produção só foi possível, porque há 26 anos, os trabalhadores rurais decidiram lutar. “Quem está aqui hoje, vendendo seus produtos, já passou um dia pelo processo de luta. Os que estão hoje debaixo da lona preta, amanhã ou depois serão os que estarão aqui vendendo seus produtos. Às vezes chegam algumas pessoas no nosso assentamento e diz: ah, mas vocês não são aqueles Sem Terra que ficam acampados debaixo da lona preta, vocês são diferentes! E aí eu digo: não, nós somos o resultado desse mesmo processo de luta”.
E completa com um dado histórico importante para entender a pertinência da luta do MST pela Reforma Agrária Popular no Brasil. “Somos o único país que ainda não fez a Reforma Agrária. Se tivesse feito, não seria preciso travar a luta, fazer ocupação. Mas hoje, se não é assim, ninguém que está aqui conseguiria produzi nada”.
A Feira Nacional da Reforma Agrária ocorreu entre os dias 4 e 7 de maio. Mais de 170 mil pessoas passaram pelo evento, que se torna um marco na relação entre os trabalhadores rurais Sem Terra e a população da maior da maior cidade do país.
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Foto: Gerardo Gamarra