Temer revela que “fumou, mas não tragou” a JBS, por Leonardo Sakamoto

Blog do Sakamoto

Michel Temer voou de graça em um jatinho particular em uma viagem à Bahia, mas disse que não sabia que o dono era Joesley Batista, da JBS.

Anteriormente, o governo havia afirmado que a viagem, em família, no ano de 2011, havia sido feita em um avião da Força Aérea Brasileira. Na época, Temer era ainda, como mesmo se autodenominou, um vice decorativo. Agora, com medo do que Joesley entregou como provas em sua delação, revisou a declaração.

Essa forma de desculpa, que tenta reduzir a carga negativa por determinado ato, é muito usada desde tempos mais primórdios. Tem sido legalmente aceita, aqui e ali, o que leva a ex-governantes do PT, PSDB, PMDB e afins jurarem à Justiça que não imaginavam que empresas que despejavam milhões em suas campanhas eleitorais queriam algo em troca no futuro ou pagavam favores passados.

A impressão é de que o político que a usa se faz de tonto. Na verdade, é o contrário: ele aposta que sua audiência é composta de trouxas. Quanto mais absurda a pretensa ignorância, mais trouxa eles acham que a gente é.

O método tem seus ícones. O ex-presidente norte-americano Bill Clinton quando questionando durante a campanha eleitoral de 1992 se já havia fumado maconha, afirmou “É, sim, eu fumei. Mas só uma ou duas vezes. E não traguei”. Se ele dissesse que nunca havia posto um baseado na boca, uma foto, um vídeo ou testemunhos comprometedores poderiam negar. Nesse sentido, opta-se por uma meia verdade, torcendo para que cole, como uma alternativa à mentira. Quase construindo um ”fato alternativo”, para usar as palavras de Kellyanne Conway, assessora do presidente Donald Trump.

Na comparação, é preferível fumar maconha (na maioria das vezes, o máximo que pode acontecer é dar aquela vontade louca de comer feijão com goiabada) do chamar propina de Caixa 2 ou fazer de conta que um empresário que te dá carona em seu jatinho não é alguém próximo o suficiente para te pedir ajuda com obstrução de Justiça.

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