Para o MMC e demais movimentos que compões a Via Campesina, a agroecologia faz parte de um projeto e que não é possível qualquer tipo de conciliação com o agronegócio ou com a violência doméstica e de qualquer outra natureza
Por Adilvane Spezia e Adriana Dantas / Campo Unitário, da Página do MST
Com o tema ‘Sem Feminismo não há Agroecologia’, o segundo dia de atividades do X Congresso Brasileiro de Agroecologia, foi marcado pelo debate feminista, as mulheres e a agroecologia. A mesa foi inteiramente composta por mulheres, contemplando o feminismo, a agroecologia e sua diversidade.
Além da contribuição de Emma Siliprandi do GT Mujeres, Agroecologia y Economia Solidária de CLACSO (Espanha), somaram-se à mesa de debates, Rosângela Piovizani do Movimento de Mulheres Camponesas (MMC), Elisabeth Cardoso do Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata Mineira (CTA-ZM), Larissa Henrique Nunes da Rede do Grupos de Agroecologia (REGA), Sylvia Papuccio de Vidal da AMA-AWA, Maria do Socorro presentando as Quebradeiras de coco Babaçu, Maria José Morais Costa da Secretaria de Mulheres da Contag, Sarah Luiza da Marcha Mundial de Mulheres.
Emma deu destaque a história da agroecologia e a fundamental contribuição das mulheres, “afinal não estamos aqui só de passeio, essa diversidade de olhares só pode nos enriquecer”. Ela ainda apontou como as mulheres eram e por vezes ainda são, desconsideradas nas políticas públicas, e nas poucas que acessavam só apareciam no papel de mãe ou esposa. “A ideia de que as mulheres não tem o que dizer e o que fazer, me assusta, pois sem feminismo não há agroecologia”, revela Emma.
Em sua apresentação, Rosangela Piovizani falou do atual momento de crise, ressaltando alguns avanços que tivemos ao longo deste último período, porém lembra que os desafios impostos são enormes e exige de cada uma muita unidade na luta, pois sabemos lutar pelos nossos direitos e precisamos estar articuladas.
Para o MMC e demais movimentos que compões a Via Campesina, a Agroecologia faz parte de um projeto e que não é possível qualquer tipo de conciliação com o agronegócio ou com a violência doméstica e de qualquer outra natureza, não é possível admitir os transgênicos, nem o veneno. Desta forma, a agroecologia está para além das experiências e sempre fez parte da vida das camponesas e camponeses, sendo assim um princípio de vida.
“Sempre foi e sempre serão as mulheres a levantar esta bandeira, pois naturalmente, historicamente as coube o papel de defesa da biodiversidade, das águas e das matas”, destacou Rosangela. Que ainda aponta:
“Pensando na agroecologia como projeto, há um grande desafio que temos pela frente e que para vencermos esse período em que passamos, é preciso sair das pequenas experiências de agroecologia e passarmos a dialogar com a sociedade sobre o papel político e de enfrentamento ao capital, que de fato, a agroecologia se propõe a discutir. A sociedade precisa entender que o avanço do agronegócio com os transgênicos e avanço nos território, é uma violência principalmente sobre as mulheres. Precisamos a partir das mulheres, provocar uma verdadeira revolução neste país, sair dos debates e ir às ruas para ocupar”.
Silvia por sua vez argumenta que o feminismo que se adapta muito bem a agroecologia é o ecofeminismo. “A agroecologia precisa entender que trabalhar com as mulheres é diferente de trabalhar para as mulheres. É preciso atentar-se para esse feminismo que reclama à agroecologia na América Latina”, aponta ela.
Segundo Sarah Luiza da Marcha Mundial das Mulheres, “o feminismo, a agroecologia que queremos e estamos construindo, faz parte de um projeto político de sociedade”.
Por sua vez, Larissa questiona: “Como pensar a agroecologia sem as mulheres? Quem são essas mulheres que fazem agroecologia, onde elas estão?”. Quase que na sequência, Mazé da Contag e a Maria do Socorro, quebradeira de coco babaçu, respondem a estes questionamentos.
Mazé destacou o ponto de onde cada mulher tem falado e construído a agroecologia e o feminismo, “a agroecologia e o feminismo estão em mesmo nível das demais relações entre os seres, mesmo que, por vezes, as mulheres ainda sejam invisibilizadas, assim como, seu trabalho, sua construção histórica de lutas”.
Maria do Socorro, orgulhosa de suas lutas e de suas origens, diz: “nós precisamos do feminismo e da agroecologia para manter a vida, as plantas e a nossa biodiversidade. Como mulheres somos a metade da população e mãe da outra metade, então, queiram ou não, a agroecologia sempre existiu e sempre irá existir no campo, nas águas e nas florestas”.
Esta manhã de atividades também foi marcada e revela que a luta feminista é travada todos os dias e em todos os lugares. No congresso que está sendo realizado em Brasília de 12 a 15 deste mês, setembro, as mulheres também deixaram seu recado quanto à importância da representação das mulheres nas mesas e a participação de todas as discussões. Desta forma, logo durante a manhã, após a mística de abertura, por ocasião de ter ocorrido duas atividades ao mesmo tempo, em espaços diferentes, e em um destes espaços, a mesa ter sido compostas somente por homens, as mulheres realizaram uma intervenção no início do painel que tratava da memória da agroecologia.
Segundo Adriana Dantas do MMC, “mulheres representando os diversos movimentos sociais presentes no congresso entraram com faixas com nomes de várias estudiosas e lutadoras da agroecologia e que estão vivas, demonstrando que as mesmas teriam a mesma capacidade e até mesmo mais propriedade de realizar este resgate, visto que historicamente, a agroecologia vem sendo perpetuada pelo envolvimento e luta das mulheres.
O ato foi necessário e acolhido pelos participantes em plenária”, explica ela. As mulheres precisam ousar mais e dizer um basta a todas estas violências, pois o feminismo e a agroecologia que as mulheres camponesas acreditam, o Feminismo Camponês e Popular tem que ser antipatriarcal, anticapitalista, aliado a luta da classe trabalhadora em geral, inclusive dos companheiros, pois só assim, se conseguirá avançar em uma sociedade mais justa e igualitária entre todos e todas.