Complexo do Germano ainda passa por obras e barragem que se rompeu é vigiada em tempo integral

Fundação Renova admite que não conseguiu avançar com o desassoreamento da Barragem de Candonga, mas considera que ações como o auxílio emergencial às vítimas foram executadas

Por Mateus Parreiras – Enviado especial EM

Mariana e Barra Longa – Faltando uma semana para que o rompimento da Barragem do Fundão, em Mariana, complete dois anos, resta para ser construída uma das estruturas previstas para a contenção dos 13 milhões de metros cúbicos de rejeitos de mineração ainda contidos na represa, arrasada em 5 de novembro de 2015. 

O chamado Eixo 1 será uma barragem de 80 metros de altura a ser construída com metodologia mais resistente que a técnica do antigo reservatório (uso de rejeitos e para alteamento da área de armazenagem), com início das obras previsto para março de 2018 e término em dezembro de 2019. Essa construção será conduzida pela Fundação Renova, que foi criada após acordo da União com a operadora da barragem, a Samarco, e suas proprietárias – as mineradoras Vale e BHP Biliton.

Na época do rompimento da represa, o complexo minerário da Samarco não tinha sequer sirenes para dar o alarme em caso de desastre. Hoje, uma rede de radares monitora todos os barramentos com precisão tão grande que o vento movimentando a vegetação pode ser detectado. Uma garantia, segundo a empresa, de que qualquer anomalia será rapidamente detectada a tempo de salvar vidas e evitar mais prejuízos.

Equipamentos de controle de última geração fazem parte do sistema de monitoramento da barragem (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)

 De volta à mineração

A Barragem do Fundão se tornou uma cratera, com o rejeito ainda existente formando barrancos erodidos, com o córrego que deu nome à represa escoando ao fundo. Quatro barreiras de redução da velocidade de rejeitos foram construídas para impedir que haja um desprendimento com alta energia.

“Uma das soluções para conseguir fazer intervenções nessa área foi o bombeamento da água das chuvas que vinha da Barragem de Germano e que acabava entrando em Fundão. Essa água, agora, é desviada para o Rio Piracicaba e não mais contribui com a desestabilização da área”, conta o responsável pelas obras da Samarco, Eduardo Moreira.

As estruturas da Barragem de Germano que foram danificadas com o rompimento de 5 de novembro de 2015 – os diques Sela, Selinha e Tulipa – foram reformadas. A Barragem de Santarém, que continha água e foi saturada com rejeitos no dia do rompimento, foi reforçada pela Barragem de Nova Santarém.

Uma sequência de quatro diques foi formada entre a Samarco e Bento Rodrigues para evitar que rejeitos continuassem a chegar ao Rio Gualaxo do Norte e, por ele, ao Rio Doce. Duas delas já cumpriram suas vidas úteis.

O desastre socioambiental

Em 5 de novembro de 2015, 39,2 milhões de metros cúbicos dos 50 milhões de rejeitos contidos em Fundão foram despejados no meio ambiente com o rompimento da barragem.

Em Mariana, entre o complexo minerário onde ocorreu o rompimento e o subdistrito de Bento Rodrigues, a devastação foi a mais grave, matando 19 pessoas – um dos corpos nunca foi encontrado.

Foram atingidos e quase soterrados, ainda, o povoado de Paracatu de Baixo e a cidade de Barra Longa.

A represa de Candonga  foi entupida pelos rejeitos de mineração e parou de funcionar.

Pescadores de Minas Gerais não podem mais fisgar espécie nativas e a atividade foi suspensa no mar.

O rejeito percorreu e se sedimentou mais de 660 km, nas calhas do Córrego Santarém, rios Gualaxo do Norte, do Carmo e Doce até o mar.

1.469 hectares foram destruídos pela lama.

11 toneladas de peixes grandes foram recolhidos mortos. Espécimes menores entraram em decomposição.

A lama causou a fragmentação e destruição de habitats, contaminação da água, assoreamento do leito dos rios, soterramento das lagoas e nascentes e destruição de áreas de reprodução de peixes.

Imagem: No sistema de monitoramento da barragem, as sirenes que não funcionavam (foto: Leandro Couri – EM/D.A Press)

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