Mulheres respondem a funk com apologia ao estupro: “É crime”

Uma das faixas mais ouvidas no Brasil, música de MC Diguinho causa polêmica, reação feminina e debate sobre a cultura do estupro

por Tory Oliveira — CartaCapital

“Só surubinha de leve com essas filhas da puta, taca a bebida, depois taca a pica e abandona na rua”, canta MC Diguinho no funk “Surubinha de Leve”, uma das faixas mais ouvidas no Brasil nas plataformas de streaming. Um clipe da música, lançada há quatro meses, está previsto para ser divulgado na quarta-feira 17.

A polêmica em torno da temática da canção, interpretada como uma apologia aocrime de estupro (além de machista), gerou críticas, paródias e denúncias de usuários ao longo do dia. Na letra em questão de Diguinho, fala-se claramente sobre uma relação não-consensual com uma mulher bêbada, com o agravante do “depois abandona na rua”.

“Sua música ajuda para que as raízes da cultura do estupro se estendam. Sua música aumenta a misoginia. Sua música aumenta os dados de feminicídio. Sua música machuca um ser humano. Sua música gera um trauma. Sua música gera a próxima desculpa. Sua música tira mais uma. Sua música é baixa ao ponto de me tornar um objeto despejado na rua”, reagiu Yasmin Formiga.

O que era um desabafo pessoal tornou-se uma das “respostas” mais reproduzidas pelos críticos de “Surubinha”, com mais de 127 mil compartilhamentos.

“Essa música é um total desrespeito contra as mulheres! E essa é a nossa resposta pra ela”, fez coro à crítica a dupla Carol e Vitória, responsáveis por publicar no Youtube uma paródia com letras feministas para a música:

“Abusar de mulher é crime, estupro é violência, tira as mãos de cima dela e coloca na consciência. Só um recadinho de leve para quem fala o que quer: não calo a minha voz pra defender uma  mulher”.

No início da tarde, por meio de uma nota, o Spotify anunciou a retirada a música da plataforma pela distribuidora. Já a produtora responsável pela carreira de Diguinho, informou que dará uma resposta “nas redes”.

A viralização de “Surubinha de Leve” trouxe à tona, novamente, as questões da objetificação da mulher e da normalização da cultura do estupro que permeia a sociedade brasileira. Não é, por exemplo, a primeira vez que a violência contra a mulher é utilizada levianamente em uma letra de funk. Em 2016, na esteira do estupro coletivo de uma adolescente no Rio de Janeiro, rapidamente emergiram músicas ao estilo “proibidão” que insultavam e descreditavam a vítima. Já “Covardia”, de MC Livinho, tem entre os seus versos “Vou abusar bem dessa mina, toma, toma pica tranquilinha”.

‘Sua música aumenta a misoginia’, criticou Yasmin Formiga no Facebook. Reprodução/Facebook

Comments (1)

  1. Vivendo num sociedade cuja generalizada barbaridade rotineira já consta uma singularidade no planeta só posso declarar que sinto vergonha, muita vergonha, de ser um homem neste país.
    Às vezes a estupidez ilimitada e altiva mata. Como é o caso num país (sim, com minúscula de 518 anos), que ensina ate hoje às crianças a idolatrarem os tais de bandeirantes. Primeiros estupradores, escravizadores e destruidores ambientais daqui, que fundaram uma covarde e nociva e assassina „tradição“ que por falta de civilidade geral continua em alta.
    O “artista” aqui mencionado – além de violentar o funk genuíno que é uma categoria musical que promovia a luta por direitos civis dos afro-americanos estadunidenses com auge na década 70 do século passado – mostra altivamente sua ignorância tão abismal que nem sequer entendeu até agora a primeira lição da vida. Nomeadamente que TODO HOMEM é: APENAS O FILHO DUMA MULHER!

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