Nota Pública da CPT: Interditar Lula é consumação do fascismo

Consumada a prisão do ex-presidente Lula, a Diretoria e a Coordenação Nacional Executiva da Comissão Pastoral da Terra (CPT), reunidas em Goiânia, Goiás, juntam-se a toda gente de boa vontade e senso de Justiça para externar sua inconformidade com este ato. Neste, configura-se o auge de uma trama de assalto ao poder do Estado e dizimação da frágil democracia brasileira para consolidar a submissão nacional aos interesses ilimitados do capital global.

Ainda que tenhamos sérias críticas aos governos de conciliação de classes sob controle das coalizões lideradas pelo PT – críticas sobretudo às políticas agrária, agrícola e ambiental – é inegável que estes governos reduziram desigualdades sociais, através de políticas de distribuição de renda e inclusão social, mesmo que estas não foram consolidadas em avanços estruturais irreversíveis.

A larga vantagem de Lula nas intenções de voto para as eleições presidenciais deste ano comprova que a maioria trabalhadora e pobre deste País o quer de volta, na esperança de retomar o que perdeu com a sucessão de golpes e retrocessos nos direitos operados pelo governo ilegítimo de Temer. O mesmo querem dizer as manifestações populares de hoje em todo o País, para além de controles partidários, sem medo de repressão, tal a revolta com a prisão, que pisoteia um princípio fundamental da Justiça, que é o da presunção de inocência, e pretende interditar sonhos de vida melhor.

É exatamente para impedir que a volta de Lula se concretize e venha a desfazer medidas de concentração de riqueza e poder, que toda sorte de arbítrios e desmandos tem sido feita, no âmbito dos Três Poderes da República, acobertada pelas formalidades da lei, vazias de verdade e real justiça. Para isto, vale tudo, de insuficiência de provas concretas a ágeis manipulações de leis e jurisprudências, num falso e hipócrita combate à corrupção sistêmica, contando com o aparato empresarial-midiático a martelar nas consciências a versão enviesada e torpe. Inescrupulosamente, não é o mesmo comportamento para outros líderes, de outros partidos, praticantes de crimes notórios. E a simples razão é porque estão a serviço e são beneficiários dos retrocessos e rendições à acumulação ampliada do capital financeiro-agrário que avassala povos e nações, sobretudo as mais ricas em bens naturais.

De costas para os interesses populares, o que este complexo empresarial-financeiro-midiático faz, com apoio militar velado ou explícito, é nutrir, estrategicamente, o ódio, a intolerância e o preconceito, expressões do fascismo social, em que só vale o indivíduo com seus interesses privados, não mais a sociedade e a partilha coletiva de bens comuns e públicos. O avanço da violência impune no campo e na cidade é sua face mais cruel.

Portanto, interditar Lula, ícone simbólico de uma alternativa, é a consumação do fascismo neoliberal no Brasil. Defendê-lo, independentemente de ser ou não ser petista ou lulista, tornou-se obrigação de todo verdadeiro democrata e promotor da Justiça, dos direitos humanos e de um outro mundo possível, política, social e ambientalmente sustentado. O antipetismo cultivado se faz contra esta possibilidade.

Com isso, a CPT se compromete e junta forças com as comunidades camponesas que acompanha e resistem nos territórios, organizações parceiras e movimentos sociais em todo o País. Estamos convencidos de que, preso político, engrandecido na prisão, como grandes líderes o foram, Lula, mesmo com seus erros e até não sendo eleito, reúne mais condições de influenciar o futuro do País, que só será melhor se, nos marcos construtivos de uma democracia real participativa, através de assembleias e plebiscitos, revogar as medidas regressivas atuais e estabelecer a soberania popular que nunca tivemos.

Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada? (…) em todas estas coisas somos mais do que vencedores, por aquele que nos amou. (Romanos 8,35.37).

Diretoria e Coordenação Nacional Executiva da CPT

Goiânia, 07 de abril de 2018.

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