Após nove meses, moradores de Barcarena cobram indenizações da Hydro Alunorte

Desde 2000, foram registrados 22 desastres ambientais em Barcarena

Maíra Heinen, da Radioagência, no Brasil de Fato

Doenças de pele, problemas neurológicos e até câncer. Dona Ângela Vieira, da Associação Quilombola de Barcarena, explica que essas são algumas das consequências para moradores atingidos por vazamentos de rejeitos da mineradora Hydro, há nove meses, no município de Barcarena, no Pará.

Nesse período após o incidente, comissões parlamentares e uma força tarefa de ministérios públicos foram criadas mas, para os moradores, ainda não há uma solução concreta no caso.

Dona Ângela Vieira explica que, de fevereiro até agora, a situação dos moradores só piorou.

“Muita quantidade de câncer dentro da comunidade, tuberculose também, dentro das comunidades, problemas de pele, muito problema de pele, muita coceira, feridas na pele das crianças, da coceira que dá. Não teve nada de melhora.”

No dia 17 de fevereiro, após forte chuva na região, moradores de Barcarena denunciaram ao Ministério Público do estado possível transbordamento de resíduos vindos da empresa Hydro Alunorte, produtora de alumina, atingindo vários pontos do município. No mesmo dia, o Ministério Público do Pará fez inspeções na área e, já no dia seguinte, uma força tarefa foi criada para investigar a situação e os possíveis danos.

A contaminação foi confirmada pelo Instituto Evandro Chagas, no mês de março, que apontou níveis consideráveis de metais tóxicos nas amostras analisadas como arsênio, chumbo, mercúrio, além de alumínio, ferro e cobre.

Atualmente, após ações do Ministério Público do estado e do MPF no Pará, a Justiça Federal confirmou decisão que determinava restrição das operações da mineradora Hydro Alunorte. Segundo a Justiça Federal, a decisão vale enquanto não houver cumulativamente a Licença de Operação, a demonstração da capacidade operacional eficiente e outros requisitos técnicos adequados a um padrão de operação.

Na Câmara Federal, nesta semana, a comissão externa criada para investigar os vazamentos de rejeitos apresentou o relatório final e recomendou uma auditoria do Tribunal de Contas da União sobre a efetividade da inspeção ambiental, que poderia ter identificado falhas.

Para o deputado Edmilson Rodrigues, relator da comissão, trata-se de um crime, pois há suspeitas de fraude na concessão da licença ambiental, além de demora para adoção de medidas no atendimento à população prejudicada pelo vazamento.

“Realmente é um crime que não pode ser negado porque estava ali, no mínimo eles não estavam preparados nem para defender os próprios funcionários da contaminação. E estavam cometendo atos ilícitos e causando problemas a todo um meio ecológico que sofre um desequilíbrio enorme e principalmente a qualidade de vida do povo que hoje sofre com problemas de pele, problemas degenerativos.”

A Hydro Alunorte sustenta, desde fevereiro, que não houve vazamento ou transbordo dos depósitos de resíduos de bauxita da Alunorte. Ainda segundo a empresa, o não transbordamento foi certificado por várias autoridades, como Secretaria de Meio Ambiente do estado, Defesa Civil, Corpo de Bombeiros e Ibama, em fevereiro, e também confirmado por análises realizadas por consultores ambientais independentes.

A empresa destaca que, até 2020, cerca de R$ 190 milhões serão investidos em melhorias nas instalações da refinaria.

Enquanto isso, alguns moradores das comunidades atingidas acabaram entrando com ações na Justiça Federal. A expectativa é receber indenizações por danos morais e ambientais, além de conseguir o pagamento para exames de saúde.

Edição: Radioagência.

Imagem: Metais como arsênio, chumbo e cádmio foram encontrados no meio ambiente em Barcarena, efluentes da Hydro e na mina em Paragominas / Pedrosa Neto / Amazônia Real

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