“Que diferença faz quem é Chico Mendes?”, diz ministro do Meio Ambiente

Em entrevista ao “Roda Viva”, Ricardo Salles minimizou a importância do líder ambientalista, não apresentou propostas concretas para o meio ambiente no Brasil e continuou defendendo mais agilidade nas licitações, mesmo após crimes ambientais como os da Vale

Por Fórum

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, em entrevista concedida ao “Roda Viva”, da TV Cultura, nesta segunda-feira (11), confessou que não conhece a Amazônia e muito menos sabe da história do líder seringueiro Chico Mendes, considerado mundialmente uma das maiores referências da causa ambiental.

Já no final do programa, o apresentador, Ricardo Lessa, perguntou a opinião de Salles sobre Mendes, ao que ele respondeu: “Eu não conheço o Chico Mendes, escuto histórias de todos os lados. Dos ambientalistas mais ligados à esquerda, que o enaltecem. E das pessoas do agro que  dizem que ele  não era isso que contam. Dizem que usava os seringueiros pra se beneficiar”, afirmou. Lessa rebateu: “Se beneficiar do que? Ele é reconhecido pela ONU”. O ministro, então, disparou: “O que importa quem é Chico Mendes agora?”.

Para além da ignorância com relação a uma liderança que é referência na área em que atualmente é responsável, Salles seguiu defendendo licenciamentos mais ágeis e até mesmo a auto-licenciamentos de empresas que vão atuar em áreas de preservação ambiental ou que suas atividades ofereçam riscos, mesmo confrontado pelos jornalistas com o fato de que as tragédias de Mariana e Brumadinho (MG) aconteceram após licenciamentos relâmpago.

De acordo com Salles, a ideia é adotar uma política de licenciamentos em que haja “objetividade” pois, assim, os empreendimentos que ofereçam riscos, como as de mineração, sejam melhor executadas.

“Se fosse verdade que esse sistema burocrático funcionasse não teríamos presenciado, nesse sistema, essas tragédias”, disse, de forma retórica.

Ao longo da entrevista, o ministro ainda relativizou os critérios de multas às empresas que cometem crimes ambientais e ainda propôs um processo de “acordo negociado” com infratores, o que, na prática, seria uma espécie de anistia.

Pressionado a oferecer respostas em respeito às vítimas de Mariana e Brumadinho, Salles minimizou e afirmou que a resposta está sendo dada através da presença de autoridades nos locais das tragédias.

“O respeito às vítimas é essa resposta rápida, objetiva, a presença do governo em peso. Três ministros estiveram lá [em Brumadinho] no primeiro dia. O próprio presidente foi ao local”, disse, sem apresentar atitudes concretas para punir a empresa, indenizar as vítimas e evitar novos acidentes.

Assista a íntegra da entrevista.

Enviada para Combate Racismo Ambiental por Isabel Carmi Trajber.

Ricardo Salles e Jair Bolsonaro: nomeação do ex-advogado acalmou os ânimos dos ruralistas e do setor industrial. Foto: Pedro Ladeira /Folhapress

Comments (2)

  1. Pena que as atitudes errôneas que esse individuo irá tomar no cargo não serão irrelevantes.
    Ele encontra respaldo na bancada ruralista.
    Aliás ele só está lá para atender as demandas dos agropecuaristas.
    Sob a égide da desburocratização e desenvolvimento econômico está buscando regulamentar o “auto-licenciamento” para atividades ditas de baixa potencial danoso. No entanto, dada sua ignorância ele citou, por várias vezes na entrevista, que remoção de cobertura vegetal para atividade agrícola como sendo de atividade de baixo dano. Como pode?
    Até uma criança sabe das consequências relativas a remoção mata. Vamos caminhar para a desertificação do Brasil. Devemos guardar, listar, enumerar o nome de todos esses que protegem de forma desmedida e irracional toda e qualquer atividade agropecuária. Pois no futuro poderemos jogar na cara deles o resultado de suas ações.
    Que desespero ver alguém desse nível comandando a pasta.
    É o mesmo que ver uma criança de 3 anos segurando uma arma.
    Pois bem, a entrevista foi mais uma oportunidade de evidenciar a sua inadequação para o cargo.

  2. Um ministro que representa um governo eleito por fake news não deve conhecer nada mesmo, muito menos a importância do ambientalista e defensor dos seringueiros e da Amazônia. O Brasil ficou mais pobre nitidamente em recursos humanos nos setores mais importantes das políticas publicas, em seu potencial de atrair investimentos ( o presidente Bolsonaro foi um desastre em Davos), e está deixando cada vez mais o povo brasileiro órfão da garantia dos direitos humanos. A esse desgoverno e seus Ministros, minha mais pura indignação e repúdio por todo desfeito e desconhecimento do que é o Brasil e seu rico povo.

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