Por Eduardo Barbabela, Juliana Gagliardi e João Feres Junior, no Manchetômetro
Jornal Nacional
Na edição de ontem (15/6), o Jornal Nacional abordou a divulgação, pelo Intercept, de novas mensagens atribuídas a Sergio Moro e a procuradores da Operação Lava Jato. Na matéria, com duração de 8m11s, o telejornal reproduz mensagens do diálogo, com foco em Moro, citando, inclusive, trechos em que a Globo e o Jornal Nacional foram mencionados. Segundo o âncora, o Intercept, embora tenha destacado “o nome do JN três vezes, não destacou o fato de que” o veículo, na ocasião, “não deu uma linha sequer da nota dos procuradores, embora fosse absolutamente legítimo publicá-la” e “limitou-se a divulgar trechos do depoimento do ex-presidente lula sem comentá-los”.
O JN retomou a estratégia de citar falas de fontes. Citou a nota divulgada pelo Ministério da Justiça em nome do ministro Sergio Moro não reconhecendo a autenticidade das mensagens, reforçando a invasão criminosa de hackers e afirmando que o suposto material deveria ser apresentado às autoridades para ter sua integridade certificado; a fala de Santos Lima, que afirmou desconhecer completamente as mensagens divulgadas e acessadas por meio criminoso, sugerindo que o Intercept deve explicações sobre o material; a força-tarefa da Lava Jato no Paraná, que reforçou nota divulgada na quarta, novamente explicada e citada pelo telejornal, criticando a investida criminosa a celulares de autoridades com o objetivo de atacar a operação de modo orquestrado e sugerindo a inautenticidade do material; a nota dos advogados de Lula afirmando que as novas mensagens divulgadas afastam qualquer dúvida da parcialidade judicial e a perseguição pessoal ao ex-presidente; e, por fim, reproduziu fala do presidente Jair Bolsonaro em defesa de Moro, reforçando sua responsabilidade no combate à corrupção no país.
A cobertura se encerrou com chamada para matéria sobre o aplicativo Telegram a ser veiculada no Fantástico. Não há menção aos jornalistas do Intercept ou tentativa de consultá-los.
Embora o telejornal tenha assumido menos a narrativa de um ataque hacker como fez anteriormente, limitando-se a reproduzir notas, continua reproduzindo as falas essencialmente das autoridades envolvidas na Operação Lava Jato que dão prosseguimento à narrativa centrada na ideia de uma invasão criminosa orquestrada por um lado e de material inautêntico e possivelmente adulterado, por outro. Ainda que o outro lado apareça na menção à nota de Lula, o destaque é dado aos agentes da operação e a sua defesa.
Folha, Globo e Estadão
O sexto dia de cobertura do escândalo Vaza Jato repercute o segundo conjunto de textos divulgados por The Intercept em resposta à entrevista de Sérgio Moro ao Estadão. As novas revelações conquistaram espaço em todos os jornais, porém O Globo e Estadão deram matéria de capa.
A Folha segue como o jornal que mais publica sobre a Vaza Jato, com 11 textos na edição de 15 de junho. O jornal realiza uma cobertura mais crítica a Sérgio Moro, focando principalmente nas novas conversas divulgadas e na palavra de especialistas que apontam irregularidades nas atitudes do ex-juiz e dos procuradores federais.
O Estadão mantém uma cobertura tímida do caso, com apenas 6 textos novos sobre o escândalo, mas bastante benigna em relação a Moro. O maior destaque é dado à declaração de Bolsonaro de que Moro será mantido na “fila do STF”. No mais, a não ser por pequena nota na capa, o assunto é relegado para as últimas páginas do primeiro caderno do jornal e é tratada em matérias que dão amplo espaço para Moro se defender sem, ao mesmo tempo, sequer citarem os problemas éticos, legais e políticos acionados pelo escândalo. Somente curto texto de Vera Magalhães destoa do espírito da cobertura ao apontar para a resiliência de tais problemas, a despeito das respostas de Moro.
A cobertura de O Globo é a menor entre seus pares, com apenas 4 textos sobre a Vaza Jato. O jornal traz um editorial que expressa claramente a posição do Grupo Globo sobre o evento, que por sinal é também a do Jornal Nacional, como mostra nosso estudo recente sobre aquele programa. Tal posição é na verdade um conjunto de argumentos não inteiramente conectados mas que tem o claro propósito de proteger Moro e a Lava Jato. Primeiro supõe que as conversas sejam produto de hackeamento, em seguida condena o hackeamento como um crime que ameaça as instituições democráticas, em seguida parte para duvidar da autenticidade das mensagens, e fecha com o argumento pragmático de que o legado de combate à corrupção construído pela Lava Jato não pode ser ameaçado por ato tão vil como o hackeamento, fechando assim o círculo. Mas o jornal não deixa de publicar matéria sobre os novos vazamentos, inclusive explicando a sugestão que Moro deu ao MP para editar nota em resposta à defesa de Lula.
O sexto dia de cobertura do escândalo Vaza Jato repercute o segundo conjunto de textos divulgados por The Intercept. Notamos uma quebra na tendência, identificada por nós no último boletim, de as coberturas dos jornais confluírem para o enquadramento do caso como um problema de hacking. A Folha volta a destoar de seus pares, dando cobertura bastante detalhada do evento e explorando diferentes versões dos fatos e opiniões. O Estado adota estratégia de minimizar o caso, produzindo uma cobertura pró-Moro mas pouco saliente. Já O Globo assume posição editorial inteiramente alinhada à posição de Moro e do MP, ao passo que dedica espaço exíguo de reportagem ao caso. Como serão os próximos capítulos desse drama político e midiático?