Curso reúne mais de 30 educandos no estado campeão no uso de agrotóxicos
Por Nadine Nascimento, Da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e pela Vida / MST
A Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), realizou entre os dias 2 e 11 de julho o curso regional Agrotóxicos e Saúde: Subsídios Para Vigilância Popular. O curso reuniu 30 educandos e educandas, incluindo indígenas, quilombolas, camponeses e estudantes no Centro de Formação e Pesquisa Olga Benário Prestes (CECAPE-MT), em Várzea Grande (MT), com o objetivo de debater o enfrentamento aos agrotóxicos na região Centro-Oeste.
A representatividade de povos tradicionais e originários foi o que mais chamou atenção. “Esse curso me trouxe uma imensidão de conhecimento. Uma das coisas mais importantes foi a convivência com o pessoal de outros estados e regiões. Quando a gente se reúne para um curso como esse, com pessoas que atuam em várias organizações, a gente entende que não está só lá no nosso assentamento”, comenta Miraci Silva, camponesa assentada do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em Mirassol D’Oeste (MT).
A primeira turma regional de cursos da Campanha foi batizada de Tereza de Benguela, em referência a líder quilombola, que entre 1750 e 1770 esteve à frente do Quilombo do Quariterê, situado entre o rio Guaporé e a atual cidade de Cuiabá, capital de Mato Grosso. O lugar abrigava mais de 100 pessoas.
“Essa primeira turma regional veio em um momento muito especial, um período de conjuntura que está exigindo do conjunto das organizações um olhar mais profundo nas suas formas de estruturar os processos de resistência”, define Jakeline Pivato, da secretaria nacional da Campanha e da Coordenação Político-pedagógica do curso.
A programação contou com discussões em torno dos impactos na saúde do uso de agrotóxicos, as questões jurídicas que permeiam o tema, a apresentação de experiências locais e a sinalização da agroecologia como uma saída possível. Os educandos puderam ainda visitar o quilombo do Mutuca, no município de Livramento, para presenciar uma experiência de organização quilombola.
“Precisamos criar meios para que esse conhecimento que foi discutido aqui possa chegar às pessoas que estão na cidade, no campo, em seus territórios”, acredita Alessandro Ferreira, da Comissão Pastoral da Terra (CPT). O geógrafo de Catalão, Goiás, vem de uma realidade de uso intensivo de agrotóxicos, com vários casos de contaminação humana, do solo e da água. “Estou muito feliz por estar aqui e quero poder contribuir com a Campanha no meu espaço para que a gente consiga barrar o avanço da morte que o veneno representa”, diz.
Capital do agronegócio
O agronegócio é a principal atividade econômica da região Centro-Oeste e sua intensa produção de grãos é totalmente dependente do uso de venenos. Despontando como campeão na compra destes produtos, o Mato Grosso utilizou 191.439 toneladas de agrotóxicos entre 2012 e 2014, o correspondente a média anual de 12,23 a 16,69 quilos por hectare. Em consequência, o estado registra inúmeros casos de violações de direitos, contaminações de rios e nascentes e envenenamento de povos tradicionais e originários.
“Estamos em uma região onde o agronegócio tem uma expressão muito forte e com impactos bem perceptíveis no Cerrado e no Pantanal. Temos representações de povos e comunidades que se encontram em maior vulnerabilidade frente a essas ameaças. Então, o curso trouxe reflexões sobre os impactos dos agrotóxicos nos biomas que compreende a região e na diversidade de povos e comunidades ali presentes”, comenta Fran Paula da FASE-MT.
Para Jakeline, deste ponto de vista a escolha da região para a realização do curso foi estratégica. “Está muito presente no cotidiano mato-grossense enxergar o agronegócio de uma forma muito explícita, com as grandes concentrações de terra, com os grandes monocultivos, maquinários de alta tecnologia. Essa troca de experiências traz a possibilidade de que esse sujeitos entendam que não estão sozinhos, que nossas lutas estão conectadas”.
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O curso reuniu 30 educandos e educandas, incluindo indígenas, quilombolas e camponeses. Foto: Dagmar Talga