Como um grupo de mulheres valentes e amorosas compareceu a um ato da ministra, em MG, ergueu bem alto suas faixas e símbolos e levou ao chilique um deputado-coronel. Elas avisam: “Estaremos sempre presentes!”
Por Lelena Lucas*, em Outras Palavras
Nós, as Mães pela Diversidade, não poderíamos deixar de nos fazer presentes em um evento que trouxe a Ministra Damares como palestrante em defesa da família. O atual governo, que ela representa muito bem, se elegeu com base em discursos preconceituosos e homofóbicos e com isso atiçou nos ignorantes a intolerância contra nossos filhos. Em um país que carrega a vergonha de ser líder em assassinatos e violências contra a população LGBTQI+, vamos sempre nos manifestar em defesa de todas as famílias, neste movimento alicerceado no amor.
Chegamos na Assembleia Legislativa de Minas Gerais devidamente uniformizadas com as camisetas do grupo e acessórios multicoloridos. Desde a entrada, percebemos olhares repressores e pequenos gestos de repulsa à nossa presença. Ao ocuparmos uma fileira dentro do auditório, mais ainda.
Ironicamente, um grupo de câmara da Orquestra Militar tocou duas músicas enquanto a plateia barulhenta ainda circulava entre as cadeiras. Para nosso grande espanto, esses músicos abriram o evento com “Bad Romance” da Lady Gaga e “Billy Jean”, do Michael Jackson! O público mal percebeu que havia música, muito menos que eram canções emblemáticas como essas. As frases” I want your everything as long as it’s free” e “But the kid is not my son” ficaram ecoando na minha cabeça.
A ministra foi ovacionada fervorosamente. Assim que o público se sentou, permanecemos por um pequeno instante em pé, exibindo os símbolos das nossas camisetas de costas e de frente. Em poucos segundos, algumas pessoas já gritavam para que nos sentássemos e assim fizemos. Nossa intenção nunca foi atrapalhar ninguém, mas sim, fazermo-nos presentes.
Damares, com seu discurso performático, arrancou suspiros e gritos religiosos de seus quase discípulos. A hipocrisia presente em toda sua fala nos causou enjoo. Mais indigesta ainda a adoração da plateia por aquelas frases feitas repletas de falso moralismo.
Observamos que algumas câmeras (e eram muitas) se voltavam para nós repetidas vezes. Um repórter da Rede Minas nos pediu uma entrevista e uma companheira e eu nos dispusemos. Era para o jornal da noite, mas depois vimos que nossa entrevista não foi ao ar.
No final, assim como algumas pessoas próximas a nós levantaram a bandeira do Brasil, erguemos com orgulho nossa faixa. Nela, estampados a marca e o lema: “TIRE SEU PRECONCEITO DO CAMINHO. NÓS VAMOS PASSAR COM NOSSO AMOR”. Curiosamente, foi o estopim para que o Deputado Estadual, Coronel Sandro, organizador do evento e presente na mesa, rompesse num verdadeiro chilique contra nós. Gritou ao microfone que não éramos convidadas e nem bem-vindas, que estávamos ali em ato desrespeitoso, o que atiçou a plateia que por pouco não nos enxotou dali. Uma companheira não se segurou e gritou nos defendendo, que o evento era público afinal, numa sociedade que ao menos se diz democrática. Permanecemos até o encerramento com nossas cabeças erguidas, nossos propósitos amorosos e justos nos protegendo do xingamento de boa parte daquela plateia maioritariamente conservadora e de direita.
Assim, juntamente com eles, deixamos a sala. Próximas da escada da saída da ALMG, a pedidos de uma minoria, abrimos novamente nossa faixa, posamos orgulhosamente para fotos e partimos.
Nós, as Mães pela Diversidade, estamos presentes em todos os lugares. Fora de todos os armários espalhando a tolerância e principalmente o amor.
*Professora e coordenadora da Corpo Escola de Dança. Integrante das Mães pela Diversidade