Ativistas usam o Dia do Cerrado para protestar virtualmente contra a maior destruição do bioma já registrada
Nayá Tawane, Brasil de Fato
No último dia 11 de setembro foi comemorado o Dia do Cerrado, porém, com toda a riqueza natural que abriga mais de 11 mil espécies de plantas e 2.500 espécies de animais, a data marca uma realidade difícil de ser celebrada. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, foram registrados mais de 21 mil focos de queimadas entre os meses de janeiro e agosto, a maior destruição do bioma já registrada.
O Cerrado é o segundo maior bioma da América do Sul, e está sendo substituído pela monocultura e pecuária, que provoca desmatamento, queimadas, contaminação do solo e violência contra os povos que preservam a vegetação. O diretor do Instituto Cerrados, Yuri Salmona, expõe o contexto preocupante.
“Na época da seca temos uma série de incêndios, que muitas vezes são criminosos. Quase a totalidade do cerrado foi destruída para a agropecuária, especialmente a pastagem. O setor é responsável por cerca de 96% do desmatamento no Cerrado dos 48% do que já foi desmatado, porque o bioma já tem metade da sua área toda desmatada, quase a totalidade foi destruída para a agropecuária”, explica o ambientalista.
O Cerrado, que ocupa 22% do território brasileiro, segundo o Ministério do Meio Ambiente, é afetado diretamente pelo agronegócio, que utiliza o fogo na vegetação para expandir a produção. Salmona alerta que tem crescido a área de produção agrícola, principalmente, a de soja. “Infelizmente, depois que eles desmatam a área não tem grande produtividade. Nós temos cerca de 36 milhões de hectares no bioma de pastagens degradadas”, afirma.
Para a professora e conselheira da Rede de Sementes do Cerrado, Isabel Schmidt, o Cerrado é visto no Brasil como “um espaço fácil de desmatar”, por ser uma região plana, com poucas árvores e vegetação rasteira, mas principalmente pela falta de valorização e proteção.
“O Cerrado é visto como celeiro do mundo, começam a desmatar como se não tivesse nenhum valor, e plantam grandes commodities, que são produtos vendidos no mercado internacional, com preços sempre regulados por dólar e que raramente é alimento para a população brasileira”, pontua ela.
Ativistas ambientais usaram a data para denunciar o desmatamento e reivindicar políticas agroecológicas. Hashtags, como Salve o Cerrado e Cerrado em extinção, tomaram conta das redes sociais nos últimos dias.
A reportagem do Brasil de Fato questionou o Ministério do Meio Ambiente sobre quais medidas de preservação estão sendo tomadas para conter o desmatamento e não obteve resposta até o momento.
Edição: Marina Duarte de Souza
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Foto principal: incêndio no Cerrado. (Foto: Agência Fapesp)