Ação emergencial combate a Covid-19 em Terras Indígenas prejudicadas por queimadas e desmatamento

Ao sul do Amazonas, centenas de famílias são beneficiadas por campanha, num contexto de vulnerabilidade agravado pelas crescentes ameaças

Na Apib

Considerada a população mais vulnerável ao contágio pelo novo coronavírus, os povos indígenas do Brasil se veem diante de mais um desafio histórico: enfrentar o avanço da doença nas aldeias, agravado pelo desmatamento, queimadas e invasões de seus territórios de vida.

Nas Terras Indígenas ao sul do Amazonas, o crescimento dessas ameaças põe em risco a segurança alimentar, territorial e sanitária dessas populações. Segundo o INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, o desmatamento no estado já está a ponto de atingir os números do ano passado – os mais altos em 16 anos -, e a região sul, em especial, tem se tornado a nova fronteira do arco do desmatamento. Até a metade do ano, mais de 95% da derrubada da floresta no estado foi na porção sul, com destaque para a cidade de Lábrea, a quarta mais desmatada do país, com mais de 365 km² derrubados até 25 de setembro.

Por esse motivo, a parceria firmada entre a CESE – Coordenadoria Ecumênica de Serviço, IEB – Instituto Internacional de Educação do Brasil, WWF Brasil – World Wide Fund for Nature, OPAN – Operação Amazônia Nativa e COIAB – Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira; está levando insumos para garantir o sustento de 927 famílias e proteção de 54 aldeias em oito Terras Indígenas dos municípios de Humaitá, Boca do Acre, Pauini e Lábrea/AM. A ação teve início em julho e termina em dezembro de 2020.

“Desde que começou a pandemia, o desmatamento vem aumentando na região, por conta das invasões às nossas terras. Ficamos à mercê dos invasores; estamos abandonados. Não há fiscalização”, declara Nilcélio Jiahui, liderança indígena e membro da COIAB – Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira.

A campanha é implementada junto à COIAB e associações indígenas regionais: OPIAJ, OPIAJBAM, FOCIMP, APIJ, APITEM, APITIPRE, OPIPAM e OPIAM*, além dos comitês locais, Funai e SESAI – Secretaria Especial de Saúde Indígena, atuando em três eixos:

segurança alimentar – distribuição de alimentos e insumos para pesca;

segurança sanitária – doação produtos de higiene;

logística – garantia de meios de transporte, geradores e combustível para o deslocamento entre comunidades.

“Perdemos as vendas de nossos produtos, como a castanha, o açaí e a farinha. Não fosse esse recurso, estaríamos passando dificuldade. É importante não termos de sair da aldeia para complementar nossa alimentação com o que geramos em nossas roças”, atesta o cacique Edinaldo Parintintin, da aldeia Canavial, TI Ipixuna.

Cloude Correia, coordenador do Programa Povos Indígena do IEB, avalia que essa campanha vem em hora oportuna, já que as atividades presenciais desenvolvidas há 3 anos pelo IEB (projeto SulAM Indígena – FAM/BNDES) junto a esses povos foram suspensas por conta da pandemia. “Esse apoio permite a eles continuarem os processos de gestão territorial, segurança alimentar e bem viver, de forma independente e em segurança”, diz.

Ação coletiva
Uma pesquisa recente realizada pelo IPAM – Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia – e COIAB mostra que a taxa de mortalidade pelo novo coronavírus entre indígenas é 150% mais alta do que a média brasileira.

A COIAB registrou até 05/10/2020, 205 mortes de indígenas pela doença no Amazonas e 6.084 casos confirmados. Nos 9 estados da Amazônia brasileira, são 672 vidas indígenas perdidas, segundo a Coordenação.

Para Sônia Mota, diretora executiva da CESE, a pandemia impacta muito mais grupos que já enfrentam as desigualdades sociais, econômicas e raciais; em especial os indígenas. “Diante desta grave constatação, dialogamos com o Fórum Ecumênico ACT-Brasil e acessamos o Fundo de Resposta Rápida para Emergência Humanitária para apoiar essa iniciativa. A ação solidária internacional foi de grande importância para alcançar quem já não tem serviços básicos de saúde e saneamento e que, com a pandemia, enfrentam situações ainda mais desumanas”, explica.

Segundo Cloude Correia, o financiamento de instituições internacionais sensíveis ao momento de pandemia e grave crise econômica que o Brasil atravessa, é fundamental para a sobrevivência de nossos povos originários.
A Cooperação Alemã para o Desenvolvimento Sustentável, por meio da Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ) GmbH, apoia a iniciativa com recursos destinados à segurança alimentar e à aquisição de kits de proteção para minimizar os efeitos da pandemia nesses territórios.

Informações adicionais:
Terras Indígenas beneficiadas: Ipixuna, Nove de Janeiro, Jiahui, Tenharim do Igarapé Preto, Boca do Acre, Apurinã do Km 124, Água Preta/Inari e Caititu.

Associações indígenas envolvidas:
OPIAJ –Organização dos Povos Indígenas Apurinã e Jamamadi
OPIAJBAM – Organização dos Povos Indígenas Apurinã e Jamamadi de Boca do Acre Amazonas
FOCIMP – Federação das Organizações e Comunidades Indígenas do Médio Purus
APIJ – Associação dos Povos Indígenas Jiahui
APITEM – Associação do Povo Indígena Tenharim Morõgita
APITIPRE – Associação do Povo Indígena Tenharin do Igarapé Preto
OPIPAM – Organização do Povo Indígena Parintintin
OPIAM – Organização dos Povos Indígenas do Alto Madeira.

Foto: Carlos Eduardo Ramirez/Agência Brasil

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