Reunião começou nesta sexta-feira (26) e segue até o domingo (28). A reunião é organizada pelo Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kuana (Condisi-YY), com participação de mais de 100 lideranças.
Por g1 RR
Lideranças da Terra Yanomami se reuniram com o Ministério Público Federal de Roraima (MPR-RR) nesta sexta-feira (26) para discutir sobre a saúde dos indígenas, assistências e a decisão da Fundação Nacional do Índio (Funai), que proibiu que uma equipe da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) entrasse na Terra Yanomami para prestar assistência de saúde aos indígenas.
A reunião é organizada pelo Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kuana (Condisi-YY) e deve seguir até o domingo (28). Segundo o órgão, mais de 100 lideranças da comunidades Surucucu, Haxiu, Parima, Maloca Paapiu, Homoxi Hakoma, Kayanau Uxiu, Awaris e Olomai participam da reunião.
Durante o encontro, os indígenas também se reuniram com representantes do Ministério da Saúde para falar sobre o colapso da saúde dentro da reserva e solicitar uma intervenção na decisão da Funai, informou o presidente do Condisi-YY, Júnior Hekurari Yanomami.
O Fantástico divulgou no último domingo (21) a proibição da Funai para que uma equipe da Fiocruz entrasse na Terra Yanomami para prestar assistência de saúde aos indígenas que sofrem com o surto de malária, desnutrição, falta de medicamentos e abandono do governo.
A equipe, formada por profissionais de diversas áreas, também faria um estudo sobre o impacto do garimpo na reserva, que é maior do país e, nos últimos anos, enfrenta o avanço da mineração ilegal do ouro. A ideia era tender ao menos 1.200 yanomami.
No sábado (20) uma criança Yanomami morreu na Terra Indígena Yanomami. A vítima tinha sintomas de malária, desnutrição e pneumonia, conforme relato do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kuana (Condisi-YY).
O óbito foi em Xaruna, mesma comunidade onde outra criança, de 3 anos, também morreu. Nos dois casos, o Condisi-YY afirmou que não houve atendimento por parte do Distrito Sanitário Yanomami (Dsei-Y), órgão que responde à Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), ligada ao Ministério da Saúde.
A criança é a quarta a morrer por malária e o sexto caso em três meses na Terra Indígena Yanomami. Em setembro, duas crianças indígenas — uma delas tendo seis meses de idade — morreram também na comunidade de Xaruna. No dia 4 de novembro, uma adolescente indígena, de 17 anos, morreu na comunidade Yaritopi, que estava em estado grave de malária falciparum. Em 1º de outubro, um pajé da comunidade Makuxi Yano, de 50 anos, morreu sem atendimento.
Xaruna foi uma das comunidades em que a reportagem do Fantástico (TV Globo) e o g1 registrou a grave situação da saúde na Terra Yanomami. Foi nesta localidade onde a equipe encontrou uma das piores situações dentro da reserva indígena, com dezenas de crianças desnutridas e com sintomas de malária.
Xaruna fica às margens do Rio Parima e é vizinha a um a garimpo ilegal, onde os invasores tem internet e, muitas vezes, a quem os Yanomami recorrem para pedir socorro. A comunidade é originalmente atendida pelo posto Parima, mas, não há combustível para o deslocamento das equipes.
STF pede providências
Na última terça-feira (23), a Advocacia-Geral da União (AGU) enviou ao Supremo tribunal Federal (STF) uma manifestação na qual afirmou que o governo tem trabalhado para combater a desnutrição infantil do povo Yanomami.
A manifestação foi enviada ao STF atendendo a uma determinação do ministro Luís Roberto Barroso, relator de uma ação da Rede Sustentabilidade que cobra a adoção de medidas do governo e que determinou que o governo federal prestasse esclarecimentos em até cinco dias sobre a situação do povo Yanomami, no dia 17 de novembro.
O partido Rede Sustentabilidade acionou o STF pedindo que o governo Jair Bolsonaro seja obrigado a adotar as medidas necessárias para garantir a proteção da vida, da saúde e da segurança da população indígena.
Pela determinação de Barroso, o governo deverá informar: situação nutricional, acesso a água potável, serviços de saúde e medicamentos.
O Ministério Público Federal em Roraima recomendou, na segunda-feira (15), que o Mistério da Saúde faça um plano de reestruturação da assistência básica que possa reverter o cenário. Foi dado um prazo de 90 dias para a reposta, e, caso ela não ocorra, foi sugerido intervenção.
No último dia 14, o Fantástico (TV Globo) e o g1 mostraram que as crianças Yanomami estão sofrendo com desnutrição, malária e falta de atendimento médico.
Terra Yanomami
Maior reserva indígena do Brasil, a Terra Yanomami tem cerca de 28 mil indígenas que vivem em mais de 370 aldeias. Alvo frequente de garimpeiros, desde o dia 10 de maio, a região enfrenta tensão na comunidade de Palimiú em razão de ataques armados de garimpeiros.
A invasão garimpeira causa a contaminação dos rios e degradação da floresta, o que reflete na saúde dos Yanomami, principalmente crianças, que enfrentam a desnutrição por conta do escasseamento dos alimentos.
Em 2020, o ano da pandemia, o garimpo ilegal avançou 30% na Terra Yanomami. Só o rio Uraricoera concentra 52% de todo o dano causado pela atividade ilegal.
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Imagens mostram situação de indígenas na Terra Yanomami, a maior reserva do país em extensão territorial. Foto: Arte g1