No ar, De Olho na História fala sobre as lutas, as resistências e as violências no campo

Apresentado pela historiadora Luma Prado, novo programa audiovisual do observatório estreia com a saga do seringueiro Chico Mendes; projeto surgiu no De Olho na Resistência e ganha agora voo próprio; aposta em vídeos e em outros públicos prosseguirá em 2022

Por Alceu Luís Castilho, em De Olho nos Ruralistas

Chico Mendes, Dona Dijé, Paulinho Guajajara e Maria Margarida Alves: quatro exemplos de resistência no campo (um seringueiro, uma quebradeira quilombola de babaçu, um indígena e uma líder camponesa) abrem o De Olho na História, novo programa audiovisual do De Olho nos Ruralistas. Antes uma editoria do semanal De Olho na Resistência, que estreou em agosto, a série de vídeos também será semanal, às terças-feiras.

O primeiro vídeo inédito destaca o sindicalista Chico Mendes, conhecido mundialmente como um ambientalista. Ele foi assassinado no dia 22 de dezembro de 1988, há 33 anos, por fazendeiros ligados à União Democrática Ruralista (UDR), no Acre, pouco mais de dois meses após a promulgação da Constituição. A notícia correu o mundo:

Dona Dijé, Guajajara e Maria Margarida estiveram em seções já divulgadas na primeira temporada do De Olho na Resistência, que circula todas as quintas-feiras. Mas os vídeos estão sendo reeditados para o novo formato mais fácil de localizar, em uma playlist específica no YouTube, e compartilhar. Outros líderes campesinos, quilombolas e indígenas serão retratados ao longo do ano que vem.

PROGRAMA PRETENDE ATINGIR EDUCADORES E CHEGAR EM SALA DE AULA

Apresentado pela historiadora e professora Luma Prado, assim como o De Olho na Resistência, De Olho na História pretende ajudar ativistas, professores, educadores, pesquisadores, jornalistas, entre outros, a ampliar e difundir a luta que se trava há séculos no Brasil agrário. Isto em um contexto de tentativa de apagamento dos conflitos no campo, em estratégia promovida pelos ruralistas: “Lobby do agronegócio se organiza para ‘fiscalizar’ material escolar“.

Os programas têm roteiros de Luís Indriunas e de Luma Prado, com edição de Laura Faerman, produção feita por Natalie Lima, todos articulados com os demais projetos editoriais do observatório — e esta diretoria de redação. A formação acadêmica de Luma Prado é um dos trunfos do De Olho na História, que passa a ser mais uma das marcas em torno do projeto guarda-chuva, o De Olho nos Ruralistas.

Além de personalidades da luta do campo, De Olho na História vai contar a criação de movimentos como as Ligas Camponesas, que irá ao ar em janeiro. Etnias como os Suruí e os Krenak já tiveram suas trajetórias descritas e ganharão a companhia de outros povos em vídeos específicos, não somente sobre os povos indígenas.

Em consonância com outro projeto audiovisual do observatório, o De Olho no Congresso, o programa vai detalhar as ligações entre poder, agronegócio, devastação e violência. Em março será mostrada a intrínseca ligação do golpe militar de 1964 e as forças contra a reforma agrária. A Constituição de 1988 e suas contradições em relação à garantia de direitos dos povos do campo — a começar do acesso à terra — também serão abordados em outros episódios. De Olho na História irá dos ruralistas à resistência, dos massacres às lutas.

DE OLHO NOS RURALISTAS FAZ CINCO ANOS E MULTIPLICA PROJETOS

Há cinco anos, em setembro de 2016, ia ao ar a primeira notícia do De Olho nos Ruralistas: “Maggi reduz fiscalização sanitária: ‘É o mercado que vai punir quem faz coisas erradas’”. Meses antes da Operação Carne Fraca, que investigava corrupção em torno do afrouxamento das regras sanitárias. O Brasil começava a desenhar seu negacionismo. Cinco anos depois, em setembro de 2021, o observatório iniciou as comemorações de aniversário — com uma retrospectiva  para cada Unidade da Federação — em um momento de afirmação e divulgação de novos projetos.

Agosto foi o mês de estreia do De Olho no Congresso, programa quinzenal de vídeos. A série mostra quem financia, quem manda e quem faz parte da bancada ruralista e como ela vai passando a boiada em Brasília. Ao longo do semestre foram retratados políticos como o presidente da Câmara, Arthur Lira, a rainha do leite Aline Sleujtes e o negacionista Luis Carlos Heinze. A última edição esmiuçou a face “terrivelmente ruralista” do novo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), André Mendonça.

DE OLHO NA RESISTÊNCIA REVERBERA AS LUTAS DOS POVOS DO CAMPO

Em setembro saía a primeira edição do De Olho na Resistência, programa semanal sobre os povos do campo. A estreia tratou da mobilização indígena contra o Marco Temporal e contou a história do deputado Mario Juruna, da etnia Xavante, o primeiro indígena a ser eleito para a Câmara. O ano se encerra com catorze edições do De Olho na Resistência — que volta em fevereiro de 2022 para outras dezenas de vídeos.

O programa tratou de diversos movimentos, conflitos e territórios, sempre sob a perspectiva dos povos do campo, como os quilombolas do Jalapão, no Tocantins, e os pescadores do Sergipe. O programa acompanhou in loco a volta dos camponeses expulsos de acampamento em Rondônia.

Tecnologia, prevenção e combate ao fogo, agroecologia e o combate aos agrotóxicos foram alguns dos temas do De Olho na Resistência, em um ano marcado também pela solidariedade dos povos do campo durante a pandemia e as enchentes do fim do ano. O ano de 2021 foi ainda marcado como aquele em que o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) voltou a ocupar.

VÍDEOS VÃO DE UM DOSSIÊ SOBRE GENOCÍDIO À INTERNACIONALIZAÇÃO

O investimento no audiovisual é uma das apostas do observatório para atingir um público mais amplo. A primeira série, De Olho no Genocídio, denunciou diversas facetas do governo fascista e negacionista de Jair Bolsonaro: seu  supremacismo, a face patética e hesitante dos militares do seu governo, a imprensa cúmplice, a seita da cloroquina, a bancada negacionista. Por último, mas não menos importante, o papel daquele que bancou toda essa escalada da morte: o mercado.

Num contexto tão devastador, De Olho nos Ruralistas se inspirou na obra “O Bêbado e o Equilibrista”, de João Bosco e Aldir Blanc, que se foi pela Covid, para prestar, em junho, uma homenagem às 500 mil vidas perdidas até então. (Nesta terça-feira, 21 de dezembro, já são 618 mortos pela pandemia do novo coronavírus no Brasil e por uma política deliberada de combate às medidas de prevenção.)

Em novembro foi a vez de irem ao ar dois vídeos visando a divulgação internacional do observatório. Um deles, narrado em inglês, Brazil in Collapse, traz ainda legendas em outros idiomas: espanhol, francês, italiano e alemão. O nome em português, Brasil em Colapso, sintetiza como o De Olho percebe os problemas ambientais, climáticos e sanitários no país, em um combo diretamente relacionado ao seu tema principal: o agronegócio.

Para conseguir manter suas equipes e garantir a continuidade do trabalho, De Olho nos Ruralistas necessita do apoio e doações. As mensalidades começam a partir de R$ 12 . Com mais assinantes, o observatório poderá ter uma equipe maior, inclusive para as eleições de 2022 — visando o apoio à construção de uma bancada socioambiental no Brasil, ou uma bancada que seja menos ruralista, menos predadora.

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Imagem principal (De Olho nos Ruralistas/Reprodução): biografia do líder seringalista Chico Mendes é tema de estreia do De Olho na História 

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