Aldeia Naô Xohã, São Joaquim de Bicas (MG), foi atingida por rompimento da barragem há 3 anos e por enchentes deste ano
Redação Brasil de Fato
Indígenas Pataxó e Pataxó Hã-hã-hãe fecham, na manhã desta terça (25), a linha do trem e a rodovia nas proximidades da aldeia Naô Xohã, em São Joaquim de Bicas (MG), na Região Metropolitana de Belo Horizonte. A aldeia é margeada pelo Rio Paraopeba e foi atingida pelos rejeitos de minério da barragem Córrego do Feijão, da Vale, que se rompeu em Brumadinho (MG) há três anos.
Agora, a comunidade voltou a ser alagada por uma enchente de lama contaminada. A aldeia Naô Xohã foi atingida pela cheia do Rio Paraopeba, nas primeiras semanas deste ano, e segue inabitada e contaminada pelos rejeitos tóxicos trazidos novamente pelo rio. Os indígenas estão abrigados em uma escola municipal de São Joaquim de Bicas desde 9 de janeiro.
Projetos de etnoturismo, plantio, produção de artesanato e criação de animais que estavam sendo desenvolvidos foram, mais uma vez, comprometidos pela contaminação, segundo informa a Assessoria Técnica Independente (ATI) dos Pataxó/Pataxó Hã-hã-hãe, Instituto Nenuca de Desenvolvimento Sustentável (INSEA), que presta auxílio aos indígenas.
“Assim como a possibilidade de vivência religiosa, perderam espaço, prejudicando o modo de viver indígena”, afirma nota da assessoria. Porém, os indígenas denunciam que ainda não estão recebendo apoio devido da mineradora.
“Depois de sermos resgatados da cheia pelo Corpo de Bombeiros e abrigados em uma escola municipal de São Joaquim de Bicas, e sem condições de voltar ao território contaminado, a Vale negou a possibilidade de realocar nossas famílias em local seguro, afirmando que o território não está contaminado e que está em condições dos indígenas voltarem”, afirma nota pública dos Pataxó e Pataxó Hã-hã-hãe.
Protesto segue até reivindicações serem atendidas
O fechamento da linha férrea acontece até que a empresa Vale atenda quatro pontos de reivindicação, com demandas básicas, afirmam os indígenas. Eles requerem o imediato reassentamento em novo território; que a Vale garanta tendas e barracas para abrigar os indígenas até a construção de novas casas tradicionais; que a empresa pague um salário mínimo a cada indígena da comunidade; que a Vale contrate emergencialmente um estudo de diagnóstico de saúde.
Estão presentes na manifestação toda a comunidade, incluindo mulheres grávidas, crianças e idosos.
A Vale foi procurada pela reportagem e o espaço segue aberto para resposta da empresa.
Confira a nota na íntegra:
“Indígenas atingidos pela Vale ocupam linha férrea em protesto contra a Vale
Nós, indígenas Pataxó e Pataxó Hã-hã-hãe, da aldeia Naô Xohã, atingidos pelo rompimento de barragem da Vale em Brumadinho (MG), em 2019, fechamos a linha do trem e da rodovia nas proximidades do território indígena da aldeia Naô Xohã, que desde as chuvas de janeiro de 2022 está contaminado pela cheia do Rio Paraopeba.
O objetivo do ato é dar visibilidade e repudiar os três anos do rompimento da barragem da Vale, completados hoje, sem uma reparação integral e justa. Estão presentes na manifestação toda a comunidade, incluindo mulheres grávidas, crianças e idosos.
Nós reivindicamos:
– que a Vale promova o imediato reassentamento dos indígenas em novo território, sem contaminação;
– que a Vale garanta tendas e barracas de camping suficientes para abrigar toda a comunidade indígena provisoriamente até que a mineradora finalize a construção de casas tradicionais suficientes para abrigar todas as famílias da comunidade;
– que a Vale pague um salário-mínimo para cada indígena da comunidade, independente de idade, até que o processo de reparação integral seja finalizado;
– que a Vale realize a contratação emergencial do IEDS para que seja iniciado o diagnóstico de saúde de forma emergencial.
Nosso ato, pacífico, só será encerrado mediante o atendimento, pela Vale, das nossas reinvindicações.
Vale negou realocação das famílias
A aldeia Naô Xohã precisou ser esvaziada no dia 9 de janeiro, depois das chuvas intensas que atingiram Minas Gerais e que fizeram as águas do rio Paraopeba, já contaminado por metais pesados, invadir nossas casas e outras estruturas da aldeia.
Depois de sermos resgatados da cheia pelo Corpo de Bombeiros e abrigados em uma escola municipal de São Joaquim de Bicas, e sem condições de voltar ao território contaminado, a Vale negou a possibilidade de realocar nossas famílias em local seguro, afirmando que o território não está contaminado e que está em condições dos indígenas voltarem.
No entanto, os relatórios do IGAM (2021) e da SOS Mata Atlântica (2020) confirmam a desconformidade de metais pesados, como Cobre, Manganês e Sulfetos nas águas do rio Paraopeba, de forma que a argumentação da Vale não condiz com os estudos já realizados e coloca em risco a vida de nossas crianças, idosos e guerreiros e guerreiras indígenas.“
Edição: Larissa Costa