Lideranças de comunidade remota fotografaram a instalação de balsas de exploração de ouro e pedem expulsão de invasores
Murilo Pajolla, Brasil de Fato
O povo indígena Xirixana denunciou, nesta segunda-feira (7), a abertura de uma nova frente de garimpo ilegal na Terra Indígena (TI) Yanomami, no município de Alto Alegre, em Roraima.
A denúncia foi levada ao Conselho Indígena de Roraima (CIR), com evidências fotográficas da atuação dos garimpeiros no local, um dos mais prejudicados pela atividade predatória no país.
Segundo lideranças, três balsas de garimpo de ouro estão sendo instaladas na remota comunidade Herebe, localizada no Rio Uraricoera, em Alto Alegre.
No documento entregue ao departamento jurídico do CIR, os indígenas relatam como a atividade transformou — para pior — a rotina dos Xirixana.
“Nossa comunidade está sofrendo com a grande quantidade de prostituição, uso de bebidas (…). Com constantes vendas de bebidas para os parentes, que está nos trazendo problemas”, afirmam as lideranças.
“Ultimamente perdemos um parente decorrente do uso de bebida alcoólica e dois feridos por arma branca, que se encontram na CASAI [Casas de Apoio a Saúde Indígena, do Ministério da Saúde]”, diz a carta.
“Queremos que isso acabe”
A denúncia pede também a imediata “ajuda da FUNAI, Ministério Público Federal, com a companhia da Força Nacional e Exército”. Outro trecho do documento relata como os garimpeiros ilegais tentam cooptar membros da comunidade a aceitarem o avanço da atividade.
“Nós queremos que isso acabe, nossos parentes acabam se envolvendo porque os garimpeiros oferecem bebidas, armas e munições como forma de propina para que deem permissão para instalarem garimpo naquela região. Isso vem causando muitos conflitos e até mortes entre os parentes”, diz a denúncia.
CIR reage
Organização de base que nasceu na década de 1970, CIR afirmou, por meio da assessoria jurídica, que pretende acionar os órgãos competentes, entre eles o Ministério Público Federal (MPF), para pedir a expulsão dos invasores e garantir a proteção das comunidades.
Em nota, o CIR afirmou que o crescimento do garimpo implica na proliferação do “tráfico de drogas, armas, prostituição, ameaças de morte e alto consumo e disseminação de bebidas alcóolicas, além de desmatamento, poluição e contaminação das águas por mercúrio”.
A tragédia do garimpo nos Yanomami
Direitos básicos garantidos pela Constituição Federal não têm chegado aos 35 mil habitantes da TI Yanomami, a mais extensa do Brasil, na fronteira com a Venezuela. Do mesmo tamanho de Portugal, o território possui taxas de mortalidade infantil e desnutrição mais altas do que a África Subsaariana.
Conforme o Ministério Público Federal (MPF), o Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Yanomami não tem profissionais suficientes para atender todo o território, nem garantia de transporte aéreo para conectar comunidades isoladas. Ano a ano, as metas de atendimentos de saúde são descumpridas, alcançando apenas 30% do planejado.
Conforme o Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kwana (Condisi-YY), o garimpo também é responsável pelo aumento de casos de malária e pela contaminação das águas e dos peixes, causando má formação em recém-nascidos e desnutrição em crianças.
Desnutrição infantil
Uma reportagem da Agência Pública revelou que 7% das mortes de crianças com desnutrição no país ocorreram no território Yanomami, que possui 0,013% da população do país, uma sobrerrepresentação de 557 vezes.
Segundo o governo federal, uma operação foi deflagrada em agosto do ano passado para tentar expulsar não indígenas do território. Até o final de dezembro, segundo o Ministério da Justiça, já haviam sido apreendidas 111 aeronaves, das quais 22 foram inutilizadas.
Edição: Rodrigo Durão Coelho