Comunidade segue aterrorizada desde a semana passada, com a invasão de um grupo armado. Cacica Juma Xipaya, que denunciou o crime, falará em evento na Áustria
Por Redação RBA
Mesmo após a apreensão no último sábado (16) de uma balsa usada pelos garimpeiros para invadir a aldeia Karimãa, na Terra Indígena Xipaya, a cerca de 400 quilômetros da cidade de Altamira, no Pará, na noite de quinta-feira (14), a situação na região ainda é bastante crítica. De acordo com o ambientalista Marcelo Salazar, coordenador executivo de saúde na Amazônia da ONG Health In Harmony – que presta apoio à saúde das populações ribeirinhas e indígenas –, moradores da reserva extrativista do rio Iriri e do Riozinho do Anfrísio temem uma nova invasão após o grupo ter sido liberado pela Polícia Federal ainda dentro da reserva na tarde deste domingo (17).
Em entrevista a Marilu Cabañas, na edição desta segunda-feira (18) do Jornal Brasil Atual, Salazar afirmou que, além das agressões físicas, a extração ilegal do ouro também faz uso de substâncias tóxicas que poluem os rios, destroem a natureza e ameaçam a saúde das populações locais. “Os criminosos estavam dentro da balsa, numa unidade de conservação federal. Não tem nenhum motivo para eles serem soltos”, destaca o ambientalista que classifica o caso como mais um exemplo de como os crimes ambientais são relativizados. “Isso é algo que precisamos mudar no país. A Amazônia está sendo destruída, estamos perto de um não retorno com consequências não só para o país, mas para o clima do planeta. E esses crimes são tratados como crimes menores.”
Perigo crescente
Salazar detalhou que vem recebendo mensagens, também encaminhadas ao Ministério Público Federal (MPF), de indígenas que comunicam seu medo pela presença dos garimpeiros. Segundo ele, os criminosos se aproximaram novamente de uma das comunidades. Ainda no sábado, fiscais do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) encontraram e apreenderam a balsa de grande porte que vem sendo usada para exploração do ouro nas barrancas dos rios da região.
No mesmo dia, o Ministério da Justiça divulgou que a embarcação levava sete pessoas armadas. Entre elas, dois adolescentes. Os garimpeiros teriam sido encaminhados para a delegacia da PF em Itaituba, no sudeste paraense. Ontem, contudo, os agentes federais informaram à imprensa que os criminosos não foram presos porque a região do conflito é de difícil acesso. Ainda segundo a PF “não foi possível estar no local a tempo de efetuar a prisão em flagrante do grupo”. “Eles estão lá soltos na Terra do Meio enquanto a Polícia Federal está em segurança em Altamira”, condenou o ambientalista.
Comunidade ameaçada
Segundo Salazar, os criminosos teriam sido liberados sob a alegação de que órgão não conseguiria fazer o transporte dos detidos porque seria necessário um agente da PF para cada preso. E que não haveria uma aeronave para realizar o procedimento. Ainda de acordo com o ambientalista, de fato é difícil a logística de acesso à região, onde se leva cerca de dois dias para chegar de barco. Mas há pistas de pousos para remoções de saúde, descreve, que poderiam ser utilizadas pelas forças policiais.
“Isso já aconteceu outras vezes, pousam aeronaves que cabem 10 pessoas. Eles poderiam fazer 10 viagens e retirar esses presos. Chegou um helicóptero na região com o delegado da Polícia Federal. Então a logística para quando o Estado quer efetuar uma ação não é um impedimento. Com o mínimo de articulação não haveria essa dificuldade”, observa.
Juma Xipaya na Áustria
A invasão à TI Xipaya viralizou na sexta e só teve ampla repercussão entre as autoridades por conta do pedido de socorro nas redes sociais pela cacica Juma Xipaya. Durante o ataque, o pai da líder indígena, Francisco Kuruaya, sofreu agressões físicas dos garimpeiros quando tentava dialogar para que eles abandonassem o território. Na comunidade local vivem cerca de 200 pessoas.
A denúncia também repercutiu em jornais internacionais. Na próxima quinta (21), a cacica falará em Viena, na Áustria, durante a realização da 13ª edição do Fórum EARTHtalks – que debate ações emergentes para as questões ambientais planetárias. A previsão é que a violência contra os povos indígenas Xipaya seja novamente repercutida mundialmente.