Botannica Tirannica: a exposição que denuncia o conteúdo colonialista e racista presente no ‘inocente’ nome de plantas

Tania Pacheco

Maria-sem-vergonha, Catinga-de-mulata, Chá-de-bugre, Orelha-de-judeu, Ciganinha, Bunda-de-mulata, Judeu errante, Peito-de-moça, Malícia-de-mulher são nomes de plantas. Nomes de plantas repetidos acriticamente pela maioria das pessoas, sem se darem conta da carga de preconceito, racismo, antissemitismo e misoginia neles presente, sintetizado ainda na visão geral que engloba muitas delas como “ervas daninhas”. É esse o tema da exposição-denúncia de Giselle Beiguelmann, aberta ontem no Museu Judaico de São Paulo: Botannica Tirannica.

Professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAUUSP), pesquisadora e artista, Giselle dedicou um ano e meio à pesquisa iniciada meio que por acaso, quando ganhou uma planta conhecida como “judeu errante”, uma das expressões utilizadas pelo nazismo nas suas campanhas antissemitas. A carga de preconceito envolvida no nome relembrou outros, e um mergulho no universo da botânica levou-a à descoberta do quanto a ciência às vezes pode se colocar a serviço do colonialismo e do preconceito.

Na ótima entrevista que deu ao Tutameia (e que me permito reproduzir abaixo), ela analisa a questão nas suas inúmeras vertentes, que envolvem da eugenia, para humanos, à uniformização/padronização, para um mundo vegetal crescentemente sufocado pela transgenia. Assim, na sua análise, estão desde o sentido absurdo da expressão “terra virgem” à defesa das sementes crioulas e das agriculturas tradicionais com sua diversidade e riqueza.

Partindo dessa ótica, Giselle valoriza as chamadas ervas daninhas – sem valor econômico, sempre combatidas e dificilmente erradicadas – exatamente por sua capacidade de resistência contra “uma forma de racismo científico que defende a ideia de que o mundo é um jardim e que as chamadas ervas daninhas devem ser eliminadas para que a humanidade possa florescer”. Daninhas na visão de quem, afinal?

Da exposição constam um “Jardim da resiliência”, que meio que envolve a mostra; cinco vídeos que usam a inteligência artificial para ‘criar’ flores na série Flora Rebelis; e um ensaio audiovisual de 15 minutos sobre o processo de trabalho de Giselle. E três luminosos que falam objetivamente da visão de mundo da professora-pesquisadora-artista: Toda erva daninha é um ser rebelde, A nomenclatura é um ritual de apagamento e Mais clorofila, menos cloroquina.

Vejam a entrevista, Vale a pena!

Giselle Beiguelman no Jardim da Resiliência. Arquivo Pessoal

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