Contra o racismo ambiental, Eliete Paraguassu lança pré-candidatura a deputada estadual

“O racismo ambiental é a mão na roda do genocídio das comunidades”, diz a ativista; com mais de 20 anos de ativismo, Paraguassu pode dar início à trajetória política institucional com a Mandata Quilombo, construída de forma coletiva com a participação de comunidades pesqueiras e quilombolas da Bahia

Dindara Ribeiro, no Alma Preta

Pela primeira vez na Bahia uma mulher negra marisqueira irá concorrer ao cargo de deputada estadual com uma mandata coletiva em defesa das pautas quilombolas. A ativista Eliete Paraguassu lançou a sua pré-candidatura pelo PSOL-BA e tem como principal pauta o combate ao racismo ambiental que atinge as comunidades tradicionais.

Natural da Ilha de Maré, na Baía de Todos-os-Santos, e com mais de 20 anos de ativismo, Eliete Paraguassu pode dar início à trajetória política institucional com a Mandata Quilombo, inédita no estado e construída de forma coletiva com a participação das comunidades pesqueiras e quilombolas da Bahia.

Em entrevista à Alma Preta Jornalismo, Eliete conta que o momento é necessário para ter candidatos que lutem contra a violação de direitos nas comunidades tradicionais, visto o avanço da poluição ambiental provocada pelas multinacionais.

Em 2020, a quilombola se lançou como candidata à vereadora em Salvador pelo PSOL-BA, no entanto, não foi eleita. Para esse ano, a expectativa é lançar uma candidatura que traga um olhar representativo para as pautas quilombolas.

“A gente, ao longo dos anos, tem eleito figuras que não trazem o nosso tema, que não fazem esse debate para os quilombolas e os territórios pesqueiros e para nós a mandata está vindo como uma experiência maravilhosa e de construção coletiva”, conta Eliete Paraguassu.

A Ilha de Maré, território de origem da ativista, tem sido afetada pela contaminação química e o adoecimento da população devido à presença de multinacionais e indústrias petroquímicas instaladas no entorno da região desde o período da Ditadura Militar.

Recentemente, moradores da Ilha de Maré relataram o surgimento de lagartas tóxicas nos manguezais, principal fonte de alimento e renda nas onze comunidades que compõem a região. Além disso, a contaminação das águas tem provocado mortes por câncer na população, inclusive em crianças.

Diante da sua atuação política pelas águas e pelo quilombo, Eliete diz que tem sido ameaçada por causa das denúncias contra o setor empresarial e industrial na Ilha de Maré. No entanto, ela conta que acredita que a pauta do racismo ambiental deve ser encarado como prioridade dentro dos espaços políticos e institucionais.

“O racismo ambiental é a mão na roda do genocídio das comunidades, da violação de direitos, que traz aos territórios o direito de não ter dignidade, de não enterrar os nossos mais velhos. Isso foi tirado de nós”, pontua.

A previsão é que a Mandata Quilombo seja lançada até o dia 20 de junho. Enquanto isso, Eliete Paraguassu tem feito articulações com os movimentos quilombolas dos mais de 400 municípios da Bahia.

“Minha expectativa é trazer para o debate a questão do racismo ambiental, da violação de direitos nas comunidades negras quilombolas e periféricas, enfrentar esse Estado que negocia vidas, que tira direitos e a gente quer trazer para o debate essa violação de direitos que o modelo de desenvolvimento tem trazido para os territórios sem considerar a potência dessas comunidades”, enfatiza.

Edição: Nadine Nascimento

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