Mais um camponês é assassinado em área de conflito em Rondônia

Patrick Gasparini Cardoso era morador do Acampamento Tiago Campin dos Santos e soma-se a outras sete vítimas assassinadas na área desde 2021. Em 2022, pelo segundo ano consecutivo, o maior número de assassinatos registrados pela CPT foi no estado

Setor de Comunicação da CPT Nacional

Logo entre os primeiros dias do ano, no dia 4 de janeiro, pistoleiros assassinaram Patrick Gasparini Cardoso, mais conhecido como Cacheado, morador do Acampamento Tiago Campin dos Santos, organizado pela Liga dos Camponeses Pobres (LCP) em Rondônia. O camponês foi encontrado morto na fazenda NorBrasil, entre o distrito de Nova Mutum-Paraná, área rural de Porto Velho (RO), e Nova Dimensão, no município de Nova Mamoré (RO).

A suspeita é de que o assassinato tenha ocorrido a mando de Antônio Martins dos Santos, conhecido latifundiário apelidado de “Galo Velho”, o maior grileiro do estado. Galo Velho é proprietário da Leme Empreendimentos Ltda, que disputa a área do acampamento ocupado por 600 famílias desde 2020, e que, em outubro de 2021, sofreu a “maior reintegração de posse do estado de Rondônia”, a operação Nova Mutum, com uma série de violências policiais.

Apesar da resistência das famílias e a conquista de uma liminar de suspensão do despejo emitida pela Ministra Cármen Lúcia, a operação resultou na morte de duas lideranças camponesas, Gedeon José Duque e Rafael Gasparini Tedesco, que se somaram a outros assassinatos. Dois meses antes, Amarildo Aparecido Rodrigues e seu filho Amaral José Stoco Rodrigues foram assassinados por policiais armados com fuzis enquanto trabalhavam em seu lote, e Kevin Fernando Holanda de Souza foi executado em cima de sua moto, na estrada, também na região de Novo Mutum-Paraná.

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O oitavo assassinato dos últimos dois anos, de Cacheado, na área de conflito, aconteceu quase dois meses após a realização de uma operação da Polícia Federal em Rondônia, com apoio Ministério Público Estadual, intitulada “Lamassu”, que visou desarticular uma milícia privada constituída por fazendeiros, forças civis e militares destinada a reprimir camponeses que reivindicam a posse das terras da fazenda NorBrasil. Tal milícia, segundo informações levantadas pela operação, é liderada pelo Galo Velho e patrocinada por sua família.

Segundo a LCP, a fazenda em disputa é, na verdade, uma propriedade da União, que atualmente encontra-se como um latifúndio improdutivo. Em nota divulgada no portal Resistência Camponesa após o novo crime, para os integrantes do movimento o que se percebe é o “Galo Velho solto e seu bando armado atuando na região, apenas com outros policiais diferentes”.

A região de Nova Mutum-Paraná possui um histórico de constante violência brutal contra camponeses na luta pela terra. Só em 2021, o Centro de Documentação Dom Tomás Balduino da CPT registrou cinco assassinatos no Acampamento Tiago Campin dos Santos em decorrência do conflito agrário. Em 2022 foram dois registros e a morte de Cacheado consta como a primeira dos conflitos no campo no ano de 2023.

 

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