Amazônia brasileira, papai noel e COP 30. Por Nilma Bentes

Nossa! A exemplo do que alguém já disse: “Nunca me apresentaram para o Senhor MERCADO”. Quem é mesmo ele?

Alguém que fala em ´decolonial´ no Brasil, já escreveu que o colonialismo oficialmente terminou em 1822 e o escravismo só acabou (oficialmente) em 1888? Como ´nominar´ os rastros dos 66 anos de escravismo império/monárquico no Brasil? Pós colonização? Pós colonialismo? Quem inventou que o racismo ´nasceu´ com a primeira revolução industrial? Em observando que o colonialismo no Brasil começa (oficialmente) no sec. XVI, é possível imaginar que o racismo começa antes dessa época, quando os brancos da Europa (que uns chamam de península da Ásia), se sentem superiores, civilizadores. Com a Espada e Cruz ´civilizam´! Colonizam!

Por que estou escrevendo isso? É, talvez esteja mesmo meio sem propósito, mas, neste dezembro, em plena Amazônia, onde crescem desde enormes castanheiras, seringueiras, sumaúmas à pequenas espécies vegetais como jambu, chicória e outras, ficar vendo uma profusão, centenas de árvores de natal /pinheiros/ciprestes cheias de luzes, com ´fios de neve´, ´papais noels´ branquíssimo, num trenó puxado pelas renas, na ´neve´, também cheio de luzes – talvez tudo fabricado na China -, não deixa de dar uma certo arrepio em mim, mulher negra ativista, até porque se sabe que há desemprego e fome borbulhando, no momento. Talvez este ano esteja havendo mais explicitação de branquidade-branquidade na Amazônia, justo quando se sente mais, que em nossas veias corre um sangue com, no mínimo, muito ´açaí e tucupi´.

Eita! Então, o jeito é insistir em estimular a mudança do modelo neoliberal/necroliberal ,insistir numa transição que leve em conta a necessidade de ações de curtíssimo, curto, médio e longo prazos, que incluam princípios do Bem Viver-Ubuntu-Teko Porã-Feminismo Pós colonial e outros mais humanizantes, que possam apoiar na construção de uma sociedade equânime, destacando aqui: a não mercantilização abusiva de bens da natureza (água, madeira, minérios, animais, órgãos e os próprios seres humanos); agilização da transição energética (evitar emissão de gases que aumentam o efeito estufa/passar dos combustíveis fósseis para fontes de energias limpas/melhor distribuição de energia); não ao consumismo e sim consumo consciente; prioridade ao coletivo e não ao indivíduo; prioridade à agroecologia/agricultura familiar e não ao agronegócio; prioridade à colaboração e não à competição; solidariedade e não à hostilidade; dosar emprego de mão-de-obra e uso do IA; redistribuir terras; agilizar desmatamento zero/reflorestar áreas degradadas; aumentar arborização urbana; construir moradias dignas, com áreas saneadas; não à gentrificação; agilizar políticas/ planos/ ações ligadas à emergência, resiliência, adaptação e mitigação climática; estimular planejamento familiar; economia subordinada à ecologia; biocentrismo e não antropocentrismo; votar em gente séria, decente, comprometida, que proponha e faça aprovar uma reforma política capaz de absorver, concordar com os princípios aqui destacados. A COP 30 está à porta. Façamos ´menos do mesmo´. Vale aqui o pretuguês.

Belém-PA, 20 de dezembro de 2023.

Nilma Bentes: Ativista do movimento negro/mulheres negras; engenheira agrônoma, uma das fundadoras do CEDENPA-Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará; co-criadora da Rede Fulanas NAB-Negras da Amazônia Brasileira; idealizadora da Marcha das Mulheres Negras – 2015

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