Makotas de terreiros de Minas Gerais denunciam racismo religioso

As makotas são conselheiras das mães de santo e comentam violências contra povos de religiões de matriz africana

Ana Carolina Vasconcelos, Brasil de Fato

Desde o ano passado, o 21 de março é o Dia Nacional das Tradições de Raízes de Matrizes Africanas e Nações do Candomblé. Mesmo com o reconhecimento da data, Makotas (conselheiras das mães de santo e responsáveis por cuidar dos terreiros) de Minas Gerais relatam que o cotidiano dos povos ainda é marcado pela discriminação e violências.

Dados do IBGE indicam que no Brasil existem aproximadamente 407 mil praticantes da umbanda, 167 mil do candomblé e 14 mil de outras religiões de matrizes africanas. Segundo um levantamento da startup JusRacial, em 2023, havia 176 mil processos por racismo em tramitação nos tribunais do país e um terço deles (33%) envolviam intolerância religiosa.

Em Minas Gerais, um levantamento da Secretaria de Justiça e Segurança Pública do estado (Sejusp/MG) indicou que, entre janeiro e novembro de 2021, o estado registrou 83 crimes motivados por preconceito religioso.

Para Makota Celinha, iniciada há 33 anos no candomblé e coordenadora-geral do Centro Nacional de Africanidade e Resistência Afro Brasileira (Cenarab) em Minas Gerais, é preciso maior empenho do Estado e da sociedade no combate ao racismo, que se expressa de diferentes formas.

“O racismo religioso se expressa também nos olhares, no sair da calçada onde você está, ou te olhar atravessado como se você fosse algo de outro mundo. E, todas as formas como ele se expressa c e os nossos direitos como cidadãos”, complementa Celinha.

Uma pesquisa da Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras, divulgada no fim de 2022, ouviu representantes de 255 terreiros e observou que quase metade deles registraram até cinco casos de violência nos dois anos anteriores.

Makota Kidoialê, do Quilombo Manzo, localizado em Belo Horizonte, explica que, para as comunidades, além de templos sagrados, os terreiros são espaços de preservação da cultura, alimentação, língua, danças e tradições dos povos negros, trazidos da África para o Brasil.

“É a preservação de tudo o que nós trouxemos para além do nosso corpo e da cor da nossa pele”, explica Kidoialê. “Quem ataca o terreiro está atacando a sua própria história.”

Para a Makota Kinanjenu, da casa Nzo Jindanji Kuna Nkos’i, o racismo também se expressa na falta de políticas públicas voltadas para os povos de terreiros. Ela destaca que, ao invés de dar suporte, muitas vezes, o Estado invisibiliza as demandas.

“Durante todo esse tempo de resistência e existência, estamos fazendo o nosso próprio Estado, porque o Estado formal limita a nossa participação. Ele fala ‘até aqui você vai, daqui para frente você não vai mais’”, relata Kinanjenu.

Edição: Leonardo Fernandes

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