Pesquisa analisa impactos da ‘síndrome da turbina eólica’

Na AFN

Um estudo realizado pela Fiocruz Pernambuco, em conjunto com Universidade de Pernambuco (UPE), investiga os efeitos do funcionamento de parques eólicos sobre a saúde de moradores em áreas rurais do estado. A chamada “síndrome da turbina” tem sido associada a sintomas como insônia, irritabilidade, dores de cabeça e ansiedade, provocados pelo ruído constante e pelos infrassons emitidos pelo funcionamento das torres eólicas.

Atualmente não há soluções eficazes para minimizar os impactos das torres e turbinas nas comunidades locais. A falta de mitigação para os ruídos e vibrações gerados por essas estruturas têm levado muitas pessoas a se mudarem para as zonas urbanas, já que a paralisação das torres não é uma opção viável. Na primeira etapa da pesquisa, em 2023, 70% dos 105 entrevistados manifestaram a vontade de deixar suas residências devido a essas questões.

Outros achados do estudo apontaram que 66% dos moradores (de crianças a idosos) utilizam medicamentos para dormir. Mais da metade (54%) relataram ter perda auditiva e 31% reclamaram do incômodo visual causado pelas sombras das pás girando, o chamado efeito estroboscópico, que deteriora a saúde mental dessa população, juntamente com o ruído. Além de todos esses impactos observados, 41% relataram alergias e dermatites por conta da poeira espalhada pelas hélices nas casas ao redor.

“Temos contribuído com diversas entidades e com nossos alunos da Universidade de Pernambuco, do Campus Garanhuns, e do Instituto Aggeu Magalhães (IAM/Fiocruz Pernambuco), para minimizar os efeitos decorrentes das torres eólicas em Caetés, especialmente no que se refere às infrações ambientais. Esse trabalho é uma iniciativa colaborativa, em que o processo está sendo reorientado e compartilhado com outros pesquisadores”, afirmou o coordenador da pesquisa, André Monteiro.

Um exemplo disso foi o mutirão de saúde promovido pelos pesquisadores em dezembro no sítio Sobradinho, em Caetés. A iniciativa contou com uma equipe multidisciplinar formada por enfermeiros, médicos, fonoaudiólogos, sanitaristas, psicólogos e nutricionistas. Além de testes de audiometria para avaliar perdas na acuidade auditiva decorrentes da exposição aos ruídos, os profissionais utilizaram  Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (Pics), como forma de minorar o sofrimento mental nas comunidades.

Intitulado Processos de vulnerabilização e os conflitos socioambientais decorrentes da implantação e operação de parques eólicos em comunidades camponesas no Agreste Meridional de Pernambuco, o projeto conta com a cocoordenação da professora da UPE Wanessa da Silva Gomes. O financiamento da iniciativa é do Programa Inova Fiocruz, por meio do edital Programa de Excelência em Pesquisa (Proep) IAM de 2022.

Os resultados preliminares podem subsidiar a formulação de políticas públicas que integrem as necessidades das comunidades rurais ao planejamento e à expansão dos projetos de energia renovável no estado. A pesquisa também amplia o debate sobre o equilíbrio entre o desenvolvimento sustentável e a qualidade de vida das populações diretamente impactadas.

Foto: Camilo Lobo/Diálogo Chino

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