Moradores tentaram impedir o início das operações no patrimônio localizado na zona sul de Londrina
Por Simoni Saris – Grupo Folha
Na noite de sábado (6), o padre responsável pela Capela São Sebastião, no Patrimônio Três Bocas (zona sul de Londrina), alertou os fieis durante a missa de que, em poucos dias, estava prevista a chegada da empresa contratada pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) para fazer a pesquisa sísmica na região. A comunidade, no entanto, não imaginava que os trabalhos começariam tão rápido. Os caminhões chegaram ao patrimônio na noite de segunda-feira (8). Ontem de manhã, moradores se uniram para cobrar explicações dos funcionários da empresa e tentar evitar o início das operações.
“Eles vieram muito rápido. Fomos surpreendidos. A nossa preocupação é com a poluição. A gente tem poço, usa a água e a trepidação dos caminhões também pode danificar as construções”, disse o caseiro Irineu Szlachta.
Seo Irineu contou que há cerca de duas semanas notou trabalhadores colocando “estaquinhas” na beira da estrada que corta o patrimônio, mas não tinha ideia do tipo de trabalho que realizavam. Ontem, descobriu que o nome técnico das tais “estaquinhas” é geofone, uma bobina receptora que detecta a velocidade da onda e a vibração do solo. O equipamento é utilizado no trabalho de pesquisa sísmica desenvolvido pela empresa norte-americana Global Geophysical Services, contratada pela ANP para fazer o serviço.
Cercados pela população, funcionários da empresa adiaram o início dos trabalhos para esclarecer dúvidas e explicar que a pesquisa não oferece risco algum aos moradores ou às edificações. Mas a dona de casa Aparecida de Jesus Okino não ficou convencida, nem mesmo depois que funcionários foram até a chácara onde ela mora para avaliar o poço artesiano construído na propriedade e garantir que a pesquisa seria feita a 100 metros de distância da casa dela. “Eles falam que não vai prejudicar, mas falar é uma coisa, na prática é outra. Uso a água do poço para tudo e tenho medo que contamine. Tenho medo também de chacoalhar o poço e estragar a estrutura”, comentou, desconfiada. “A nossa maior preocupação é com os danos que isso vai causar. Somos todos agricultores e dependemos disso aqui”, afirmou a monitora de transporte escolar Alessandra Paula Ferreira Gomes, que tem um sítio no patrimônio.
“A empresa diz que essa parte é só a da pesquisa, mas o que vem antes da perfuração do solo? A pesquisa. Depois que eles souberem o que tem no subsolo, quem vai impedir de fazerem as perfurações?”, questionou Irineu Szlachta.
Logo após a conversa com os moradores, as equipes da empresa iniciaram os testes sísmicos. Os funcionários da empresa informaram que não têm autorização para dar entrevistas, mas não se negaram a responder as perguntas feitas pela reportagem.
Segundo eles, a forte trepidação provocada pelos caminhões e que incomoda e assusta tanto a população são vibrações que emitem uma onda mecânica refletida e captada pelos geofones. Eles explicaram ainda que por questões de segurança, quando os caminhões passam próximo a edificações, a vibração é suspensa.
Para deixar os moradores mais tranquilos, funcionários da empresa deverão participar de uma reunião com a comunidade do Patrimônio Três Bocas na noite quarta-feira (10), quando devem ser prestados mais esclarecimentos sobre os trabalhos que estão sendo feitos na região.
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Enviada para Combate Racismo Ambiental por Silvia Calciolari.