Por Fernanda Couzemenco, Século Diário
Expulsos de suas terras há 50 anos, muitos quilombolas de Conceição da Barra, norte do Estado, passaram a habitar a periferia da cidade, tendo de se submeter a subempregos e com dificuldade de manter sua cultura tradicional. “São lutas pelas terras devolutas que foram invadidas pela monocultura do eucalipto de forma ilegal e de forma desordenada”, enfatiza o estudante universitário Diogo Gomes, uma das lideranças locais, ao falar de mais uma retomada de terras realizada no último final de semana no Córrego do Felipe.
A ocupação aconteceu logo após o corte do eucalipto pela Aracruz Celulose (Fibria) e conta com 24 famílias, cerca de 50 pessoas, que estão compartilhando uma área de aproximadamente 64 hectares, próxima à comunidade do Angelim, também quilombola. A retomada a 11ª realizada no antigo território do Sapê do Norte, formado pelos municípios de Conceição da Barra e São Mateus, desde 2007.
No momento, as famílias estão retirando os restos de madeira e já realizando plantios com mudas frutíferas, que asseguram sombra para futuramente iniciar a agricultura de produção propriamente dita.
A primeira construção será a da sede da Associação de Pequenos Produtores Quilombolas do Córrego do Felipe e, em seguida, as residências das famílias. A expectativa de melhoria de qualidade de vida é grande, por meio “da ressocialização das famílias, da agricultura familiar, da educação rural, do lazer, do turismo e da manutenção da cultura tradicional do povo”, elenca Diogo.
Nos estudos desenvolvidos pelo povo quilombola na luta pela recuperação de seu território, o estudante destaca a situação dos corpos d’ água. “Todos os córregos e nascentes da nossa região morreram. Estamos fazendo um dossiê pra informar a todos que o eucalipto tem acabado com a nossa água”, relata, destacando os córregos do Felipe, Santa Clara, São Domingos e Caboclo, além do próprio Rio Angelim.
Mais um motivo, afirma o estudante, para trazer a agricultura familiar de volta. “O Rio Angelim foi de forma criminosa utilizado pela Disa [Destilaria Itaúnas S/A], que jogava nele os seus detritos de cana de açúcar. Hoje ele não tem mais água corrente”, denuncia.
A segurança patrimonial da Aracruz Celulose e a Polícia Militar já estiveram no local e fizeram Boletim de Ocorrência, em que consta que não houve nenhuma derrubada de madeira e que o movimento é pacífico.
Os quilombolas do Córrego do Felipe estão aceitando doações de mudas de espécies frutíferas. “A luta não para!”, convocam.