Rosana Leite de Barros, em Mídia News
Estudo realizado pelo Escritório USP Mulheres e coordenado pelo professor Gustavo Venturi, divulgado em 25 de junho deste ano, detectou que a maior universidade pública da América Latina, a USP, é racista e elitista.
A pesquisa contou com a participação da Rede Não Cala da USP, além de coletivos feministas, negros, indígenas e LGBT, bem como, do movimento #HeForShe da ONU Mulheres. Segundo avaliação, a USP está inserida em ambiente racista, de 26% a 38%. Quanto à violência, analisou-se que o grupo social menos sofrido é de homens brancos de alta renda. Inversamente proporcional, a maior violência acontece para mulheres negras e de baixa renda.
A humilhação e o desrespeito aparecem expressivamente, com muitos e muitas alunas narrando acontecimentos. Dois quintos deles e delas passaram por experiências pouco confortáveis. Dos entrevistados e entrevistadas, 26% sobrevieram em violência moral. Quanto à violência sexual, 7% afirmaram ter sofrido. A violência física aparece em 3%. De todos os ouvidos e ouvidas, 47% alegaram algum tipo de violência dentro dessa tão importante instituição.
A USP foi a última universidade do Brasil a adotar o sistema de cotas para encarar as várias formas de discriminação que teimam em persistir. Para que estudantes cotistas possam conseguir permanecer, na atualidade, até o término do curso matriculado, devem combater o malfadado elitismo, como algo já há muito instalado. Se sentir inferiorizado é deveras complicado para alguém que está começando a se fortificar como ser humano de valor. É visto que as doenças psicossomáticas acometem com facilidade, principalmente, a pior enfermidade atual, a depressão.
Analisando detidamente números apresentados, é possível perceber que um terço dos alunos e alunas não se sente à vontade para manifestar livremente. O local que deveria se constituir em espaço de reflexão para formação saudável futura, acaba por se tornar lugar de experiências negativas, sem que a democracia seja a realidade esperada. Ademais, a intolerância tem sido vista a “olhos nus”, como se tivéssemos a receita do que é correto, ou melhor, para cada qual, em se cuidando proceder socialmente nas escolhas. Como os direitos humanos “gritam” por socorro, com noveis adeptos e adeptas conquistadas diuturnamente, o que era tratado como natural, acaba por ser abominável. Aliás, como todo e qualquer preconceito arraigado.
Dias atrás, um youtuber conhecido no Brasil com milhões de seguidores e seguidoras foi obrigado a retratar publicamente depois de um comentário racista em rede social. Afirmou que um jogador de futebol, pela belíssima arrancada com a bola em jogo, estaria pronto para fazer arrastão. O detalhe a se avaliar é que o jogador era negro. Será que o comentário aconteceria se o atleta fosse branco? Ele faria essa explanação se soubesse que perderia tantos contratos importantes, como de fato perdeu? Por óbvio, não pensou ao manifestar de maneira racista. Não imaginou que a sociedade modificou. Ainda bem…
O ponto crucial a ser avaliado e enfrentado é se o racismo estrutural está alojado no nível inconsciente. Entretanto, quando conjeturamos em estudos e pesquisas que ser mulher, negra e com parcas condições financeiras, é motivo para maiores discriminações, enxergamos o quão pequeninos e pequeninas somos e ficamos. O lugarzinho dos “privilegiados” e “privilegiadas” não nos faz ponderar que as mulheres negras estão conseguindo visibilidade apenas pela objetificação corporal, se apresentando como apelo sexual para cumprir o desejo e vontade muitos… Até quando?
*Rosana Leite de Barros é defensora pública estadual.