Região do nordeste de Minas Gerais, tem sido cada vez mais alvo de empreendimentos minerários. Segundo estudos do projeto Avaliação do Potencial de Lítio no Brasil, que corresponde a um estudo detalhado da região do médio rio Jequitinhonha, há indicativos de que lá se encontram 85% das reservas de lítio do Brasil
No Mab
O Lítio é um elemento mineral da natureza e é considerado como o petróleo do futuro. Ele pode ser utilizado na produção de baterias de carros e ônibus elétricos, além de baterias para telefones celulares e tablets. O mineral que se concentra na região do Vale do Jequitinhonha é considerado suficiente para abastecer o Brasil nos próximos 20 anos com potencial máximo. No entanto, o país não possui tecnologia ou interessados para dar prosseguimento na sua cadeia produtiva. Hoje as empresas retiram a Rocha Bruta da região e transformada em Concentrado de Lítio, para ser exportado e transformado nos demais processos em outros países, principalmente a China.
Cadeia Produtiva Apresentada pela SIGMA:
Nos projetos e estudos realizados pela empresa SIGMA Mineração na Área de Influência Direta da exploração, na cidade de Itinga, as comunidades Taquaral Seco, Ponte do Piauí, Poço Dantas e o Distrito de Taquaral de Minas, no raio de 1,5 km da Àrea Determinda ao empreendimento serão as mais afetadas. Foram analisadas e identificadas com 27 propriedades onde totalizam 73 moradores, sendo 38 do sexo masculino e 35 do sexo feminino, contando também com crianças e idosos que vivem dentro da área. A partir desses projetos serão realizadas mudanças no traçado da malha viária, aumentando o percurso e afetando principalmente a comunidade Piauí Poço Dantas, que está acima do empreendimento.
Na cidade de Araçuaí o processo de resistência tem sido uma das bases para que se tenha a garantia de direitos. A jazida está localizada na Área de Preservação Ambiental da Chapada do Lagoão, zona que hoje concentra em seu entorno comunidades, grande número de nascentes, e árvores nativas como pequi e coqueiro, utilizados na confecção de vassouras que contribui na geração de renda das famílias.
A Companhia Brasileira de Lítio – CBL já explora o recurso na cidade de Araçuaí a mais de 30 anos com a mina localizada na Rodovia da BR 367, km 276, na comunidade Piauí. Não é de hoje que o nosso estado mineiro sente a miséria e o descaso causado e deixado pelas mineradoras, como demonstram os crimes da Vale em Mariana e Brumadinho.
Essas são empresas que pouco se importam com a vida de trabalhadores durante a pandemia. Muitos são os trabalhadores do setor da mineração que contraíram Covid-19 pela ganância das empresas, trazendo sofrimento para as famílias, enquanto as empresas continuam impunes e com lucros altíssimos.
O falso discurso é de que terá desenvolvimento regional, criação de empregos e grandes verbas para as prefeituras. Mas o que eles não falam é de como a mineração impacta negativamente na vida das pessoas que moram nos locais de exploração: muitas famílias são expulsas de suas terras, a população passa a conviver com muito barulho (poluição sonora), poluição do ar e das águas, causando graves danos à saúde, como é o caso de doenças respiratórias e elevação dos casos de câncer. Nas cidades em que há grandes mineradoras, o preço dos aluguéis e dos alimentos são mais altos que o comum, e os índices de violência, prostituição e casos de estupros são maiores comparados com cidades sem a presença desses empreendimentos.
A Mineradora Sigma, por exemplo, já informou que vai consumir 42 mil litros de água por hora do rio Jequitinhonha. Como se não bastasse, a Sigma também já demonstrou interesse em estudar e explorar a Área de Preservação Ambiental da Chapada do Lagoão, que é considerada a caixa d’água de Araçuaí, com mais de cem nascentes, e território de vida de centenas de famílias.
Nós do Movimento de Atingidos por Barragens – MAB acreditamos e construímos o debate do desenvolvimento com a participação popular. É fundamental que a sociedade tenha a informação do interesse e da destinação dessa extração apressada e em larga escala. O acesso a água de qualidade às famílias da região deveria ser o debate anterior a exploração de lítio, e a população deveria ser parte das decisões da exploração que afetam diretamente seus modos de vida.
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Marcha do FAMA. Foto: Guilherme Cavalli/Cimi
As riquezas minerais devem ser exploradas com zelo e beneficiar a população local de maneira sustentável, o lucro justo de um empreendimento se opõe ao exacerbado que tira a paz e ofende direitos. Há meios de explorar essas riquezas compensando a natureza com ações reparadoras e a população beneficiada por essa geração de riqueza. Temos de ter seriedade e compromisso publico, com os representantes eleitos para que isso ocorra, caso contrário será um desastre.