Covid-19: mortes expõem iniquidades, fragilidades no distanciamento e importância do SUS

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No último dia 8 de agosto, o Brasil superou a triste marca de 100 mil mortes por Covid-19. Diante desse trágico cenário, a Escola Nacional de Saúde Pública Serio Arouca da Fundação Oswaldo Cruz (ENSP/Fiocruz) solidariza-se com todas as famílias pelas mortes em decorrência dessa catástrofe e também com aquelas cujos entes morreram, provavelmente, pelo mesmo motivo, mas não constaram nas estatísticas nacionais. “A solidariedade da Fiocruz e de seus trabalhadores é um afago para toda a sociedade. Reforçamos esse sentimento para com os familiares da nossa instituição que tiveram essa lamentável perda durante a pandemia do coronavírus”, afirmou o diretor da ENSP, Hermano Castro.

O triste registro das 100 mil mortes no Brasil, segundo ele, indica três questões: a intensificação das iniquidades em um cenário de pandemia, a ausência de uma política adequada de distanciamento social, além do amparo à população mais vulnerável, e a necessidade de fortalecimento do Sistema Único de Saúde.

Confira, a seguir, o comunicado da Direção da ENSP em virtude dos 100 mil brasileiros mortos pela Covid-19: 

A crise sanitária mundial exacerbou as iniquidades. As pandemias já existentes de miséria e desigualdade somaram-se à pandemia de Covid-19, o que ampliou ainda mais a disparidade social. E as populações vulneráveis sofrem mais. O impacto da doença e da morte é ampliado nessas populações, sobretudo pela dificuldade de acesso ao serviço de saúde e os imensos desafios da reorganização da atenção primária à saúde, que, num primeiro momento, pode fornecer cuidados às famílias e reduzir o impacto do sistema de saúde no nível intermediário e na própria rede hospitalar. A desigualdade foi acentuada nesse contexto, o que leva a uma quantidade maior de mortos e pessoas atingidas pela epidemia.

Outro ponto é que o Brasil não fez o dever de casa. Faltou uma política mais eficaz baseada no distanciamento social, no amparo às famílias e às populações que necessitavam, no primeiro momento, de socorro para suprir as atividades econômicas e pudessem ficar em casa. Não existiu uma política efetiva para o distanciamento ocorrer de forma plena, conforme ocorreu em outros países, e garantir renda para sobrevivência da população. Houve uma inversão. Em primeiro lugar, deveria haver uma política para salvar vidas, com o investimento necessário na saúde, para, depois, salvar a economia. O Brasil vive um momento em que não salvou a economia e, pior, deixou de salvar vidas. Essa é uma reflexão que os políticos, dirigentes e toda a sociedade devem fazer. 

É preciso recuperar não só a economia, como também uma política de saúde pública para o enfrentamento da Covid-19. As medidas farmacológicas são uma esperança para a população brasileira, pois estamos avançando na vacina, mas, enquanto isso não ocorrer, as principais medida estão no distanciamento. O retorno dos estados e municípios não tem sido equilibrado; em muitos, é prematuro. É preciso ouvir especialistas, a ciência e retornar com as atividades quando os indicadores apontarem nessa direção, quando tivermos um país que faz diagnóstico precoce nos suspeitos, com testagem por RT-PCR para diagnóstico e, a partir daí, ser possível isolar os contactantes do entorno. Enquanto essa política não estiver clara, teremos dificuldades para o retorno das atividades, da escola e aumentaremos, consequentemente, o número de mortes. 

Apesar do pouco investimento, o Sistema Único de Saúde continua sendo a principal política de saúde no Brasil para salvar vidas, incluindo todo o esforço dos profissionais de saúde atuantes na linha de frente da pandemia, que, mesmo em condições adversas, dedicam-se a salvar vidas. A política do SUS é fundamental para enfrentar a pandemia. 

A ENSP se une à Abrasco e ao Cebes no luto e na indignação pelas 100 mil mortes. 

Foto: Pixabay

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