Souza versus Souza: a luta contra a homofobia no vôlei. Por Sérgio Miguel Buarque*

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Um é homofóbico, posa nas fotos fazendo arminha para Bolsonaro e destila todo tipo de preconceito e discurso de ódio nas redes sociais. O outro é gay assumido, defende os direitos humanos com um discurso engajado e progressista. Um está em vias de encerrar a carreira, o outro está brilhando cada vez mais nas quadras. Nos últimos cinco anos, Maurício Souza e Douglas Souza jogaram juntos e ganharam muitos títulos, no Taubaté e na seleção brasileira de vôlei. Mas, embora vestissem a mesma camisa, nunca foram do mesmo time. Nessa semana, a tensão aumentou e a diferença entre os dois souzas explicitou um problema histórico do vôlei profissional brasileiro e que sempre ficou escondido: a homofobia.

Tudo começou no feriado de 12 de outubro, quando Maurício postou em seu perfil no Instagram um cometário homofóbico relacionado à notícia de que “Superman atual, filho de Clark Kent, assume ser bissexual”. Parecia ser mais uma postagem criminosa (ele é recorrente nessa prática) que não traria consequências para o atleta. Mas a reação de Douglas, três dias depois, desencadeou uma forte mobilização no meio esportivo. Outros atletas e a torcida organizada do Minas Tênis Clube, equipe que Maurício defendia, se manifestaram fortemente. A pressão sensibilizou os patrocinadores, que pressionaram o Minas Tênis, que acabou demitindo o jogador. Em seguida ele também acabou descartado da seleção brasileira. Para quem quiser mais detalhes, a história é muito bem contada pelo jornalista Demétrio Vecchioli.

A dispensa de Mauríco, com a manifestação pública de personalidades esportivas importantes como o técnico da seleção masculina Renan Dal Zotto. a ex-líbero Fabi Alvim, as jogadoras da seleção Gabi e Carol Gattaz, entre outros, traz esperança na luta contra a homofobia no vôlei e nos esportes como um todo. Mas não deixa de incomodar (apesar de não surpreender) as reações favoráveis ao ex-jogador do Minas. Muitos atletas, inclusive de outras modalidades, como o centroavante Fred, do Fluminense, defenderam uma suposta “liberdade de expressão”.

Pior, Maurício ganhou milhões de novos seguidores no Instagram. Antes do episódio, ele tinha pouco mais de 240 mil seguidores. No momento que esse texto estava sendo escrito, já eram mais de 2 milhões. O jogador, que preferiu ser demitido do que se retratar, continua subindo o tom de suas postagens e reafirmando cotidianamente sua homofobia. Quem acompanha o atleta mais de perto afirma que ele, já em fim de carreira, prepara terreno para uma candidatura a deputado federal. Isso assusta porque Maurício não é apenas um imbecil como aquele tio do WhatsApp. Ele é um imbecil perigoso em busca de poder. Que o filho do Superman nos proteja.

Sérgio Miguel Buarque é cofundador e coordenador executivo da Marco Zero.

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