Mineração de bauxita em MG: comunidades da Serra do Brigadeiro discutem projeto alternativo

Para organizações sociais, proposta de mineradora é incompatível com as necessidades da população

Ana Carolina Vasconcelos, Brasil de Fato

“Se a mineração avança, toda a nossa região de riquezas naturais fica ameaçada”, ressalta Adriana Aparecida de Morais Ribeiro, moradora do município de Muriaé. Com o objetivo de impedir que a ameaça se torne realidade, um encontro reuniu mais de 100 representantes das comunidades do entorno na Serra do Brigadeiro, na Zona da Mata de Minas Gerais, na última terça (16), e apontou a construção de um projeto alternativo ao avanço da mineração no território.

Com cerca de 50 organizações representadas, aglutinadas pela Comissão Regional de Enfrentamento à Mineração, o coletivo decidiu priorizar a construção da agroecologia, o cuidado com as águas e com a biodiversidade, o turismo, a religiosidade e a cultura popular. Para os moradores, essa opção é parte fundamental do projeto de desenvolvimento do entorno da Serra que interessa à população.

“Estamos falando de uma região reconhecida pela Lei 23207, de 2018, como Polo Agroecológico e de Produção Orgânica, em que predomina a agricultura familiar que abastece os municípios do entorno e que coloca alimento nas escolas. Falamos também de uma região que é berço de água, de animais e de plantas. Não tem como a gente aceitar e cruzar os braços com o avanço da mineração”, enfatiza Adriana.

Adriana, que é membro do Centro de Estudo Integração Formação e Assessoria Rural da Zona da Mata e da Cooperativa dos Produtores da Agricultura Familiar Solidária, reforça ainda a importância da representatividade do encontro. “Foi importante unificar vários atores, comunidades de agricultores, pastorais, ONGs, cooperativas, sindicatos, ambientalistas. Todos com o único objetivo que é a proteção do nosso território”, declarou.

Entre outras decisões da reunião, está a realização de um novo Encontro de Comunidades da Serra do Brigadeiro, em 2022, para consolidar a união das comunidades. O coletivo aprovou a Carta da Serra do Brigadeiro, que será enviada ao Instituto Estadual de Florestas (IEF), solicitando que o órgão não autorize a mineração de bauxita na zona de amortecimento do parque.

No documento, as organizações afirmam que a atuação da empresa “provocará a perda das nossas águas e do solo”, além de inviabilizar a agricultura familiar e seu modo de vida, arrastar “nosso povo para as cidades” e adoecer a “mente e o corpo de nossa gente”.

Pilares do desenvolvimento do entorno da Serra

O entorno da Serra do Brigadeiro possui nove municípios, com grande concentração de população rural. Muriaé é o único com mais de 100 mil habitantes. A região, que abriga um dos maiores remanescentes de Mata Atlântica contínuo do estado de Minas Gerais, é visada para a mineração de bauxita.

“O potencial turístico da Serra do Brigadeiro é gigantesco.  São muitas cachoeiras, picos, montanhas e piscinas naturais que fazem com que a região tenha um segundo potencial econômico a ser explorado”, afirmou o coordenador do Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM) na região da Zona da Mata Jean Carlos Martins Silva, ao Brasil de Fato MG.

Outra questão relevante para as comunidades, segundo Jean, é a religiosidade, intimamente relacionada aos aspectos físicos do parque. “Cada uma das montanhas que a mineração quer remover têm um cruzeiro na ponta, onde a comunidade sobe, uma ou duas vezes por ano, para rezar, pedir chuva e levar agradecimentos. Destruir as montanhas é destruir a própria vida das pessoas”, enfatiza Jean.

Projeto de mineradora é inconciliável com projeto das comunidades

A luta das comunidades contra o avanço da mineração no território começou na região há cerca de uma década. Desde o ano de 2003, a mineradora Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), que já realiza extração em Miraí e São Sebastião da Vargem Alegre, procura expandir seu projeto para o entorno da Serra do Brigadeiro, incluindo parte considerável da zona de amortecimento do parque.

Para Jean, o projeto de mineração de bauxita apresentado pela CBA é incompatível com o modo de vida das famílias agricultoras, que vivem da agroecologia e da produção de alimentos saudáveis. Ele aponta que a população está convencida de que o empreendimento não trará avanços para a região.

“A gente não é rico mas a gente não quer se vender para um projeto incerto, temporário, altamente impactante e destrutivo”, afirma Jean.

Próximos passos

Atualmente, a entidade que concentra o processo de resistência das comunidades à mineração é a Comissão Regional de Enfrentamento à Mineração. Fundada em 2004, a comissão desenvolveu um trabalho que permitiu, a partir de 2018, envolver representantes dos nove municípios da região.

Entre os planos para dar seguimento à luta, está a apresentação de emendas às leis orgânicas dos municípios, estabelecendo limites à mineração. Além disso, tramita na Assembleia Legislativa de Minas Gerais um projeto de lei que torna o entorno da Serra do Brigadeiro um patrimônio ambiental estadual.

A Companhia Brasileira de Alumínio (CBA) foi procurada pelo Brasil de Fato MG, mas não respondeu até o fechamento desta matéria.

Edição: Larissa Costa

Imagem: A luta das comunidades contra o avanço da mineração no território começou na região há cerca de uma década / Reprodução Agência Minas

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