Jair Bolsonaro e fake news são sinônimo em diversos tópicos, especialmente na seara ambiental. Como no governo, a campanha à reeleição do atual presidente também apela à distorção de dados para justificar o descalabro da atual política ambiental e apontar o dedo para o outro lado.
No InfoAmazonia, Eduardo Geraque trouxe um vídeo publicado no YouTube pelo PL, partido de Bolsonaro, na semana passada, antes do 1o turno. A peça distorce dados sobre queimadas na Amazônia para dizer, falsamente, que elas foram maiores nos governos do PT do que na atual gestão.
De acordo com vídeo, a Amazônia teria registrado 2,4 milhões de focos entre 2003 e 2010, durante os dois governos do ex-presidente Lula. No entanto, dados do INPE para o mesmo período indicam 1,6 milhão de focos de queimada, pouco mais da metade do número apontado pelo vídeo. “A diferença se dá porque o dado usado no vídeo do PL se refere aos números de todo o país, e não somente desse bioma”, explicou a reportagem.
Outro dado equivocado é o total de queimadas sob o atual governo. Para minimizar o número, o vídeo considerou apenas o número de focos registrados nos oito primeiros meses de 2022 (49 mil). Ou seja, malandramente, a campanha de Bolsonaro compara oito anos de Lula com oito meses do atual presidente. O problema, como no caso de outras fake news, é o alcance da mentira: o vídeo teve quase 2,9 milhões de visualizações e foi divulgado também em outros canais bolsonaristas.
Por falar em malandragem, o InfoAmazonia também levantou o volume de doações obtidas pela campanha de Bolsonaro com pessoas autuadas por crimes ambientais. O presidente recebeu mais de R$ 3,1 milhões de 93 infratores ambientais nesta eleição – uma migalha perto dos R$ 306 milhões em multas, a maior parte relacionada a desmatamento ilegal na Amazônia e no Cerrado, acumulados por esses doadores e que podem vir a ser anistiados, dado o empenho do atual governo, que segue atropelando a legislação ambiental para anular multas e facilitar a vida dos infratores ambientais.
Já no Congresso Nacional, os parlamentares eleitos para a próxima legislatura esperam ansiosos pela definição do futuro presidente da República. Como assinalou Cinthia Leone no UOL, a atuação do Legislativo, principalmente dos partidos do famoso (e infame) Centrão, será muito influenciada pelo ocupante do Palácio do Planalto a partir de 1o de janeiro.
“Se o Bolsonaro se reeleger, com este Legislativo, estou certo de que veremos uma escalada de retrocessos. Se Lula se eleger, é possível que a força de um executivo federal mais alinhado com a pauta de clima crie um balanço necessário para impedir o avanço de agendas antiambientais no Congresso”, comentou André Lima, do Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS).
Em tempo: Mesmo sem a definição do próximo governo, a bancada ruralista já festeja a possibilidade de ter a maioria do Senado Federal na próxima Legislatura. A Frente Parlamentar da Agropecuária projeta ao menos 40 senadores aliados à causa do total de 81, e existe a expectativa de que outros senadores também se aproximem do grupo, o que poderia aumentar esse número para 45. Estes dados foram publicados pelo Valor.