Por Irpaa
Na imensidão do sertão nordestino, um ecossistema rico em biodiversidade, culturas e belezas desperta a curiosidade. Com um nome que significa “mata branca” na língua tupi, a caatinga, brasileira e única no planeta, está presente em uma região de inúmeros encantamentos, contradições e fontes de inspiração. Lugar onde a resistência dos povos tradicionais, em sintonia com a fauna, a flora e o modo de vida ancestral, é uma característica marcante e essencial para a preservação da natureza.
Com uma área que compreende aproximadamente 800 mil quilômetros quadrados, cerca de 11% do território nacional, o bioma se estende por nove estados do Nordeste e parte do norte de Minas Gerais.
Composta por uma vegetação resiliente, com árvores que podem atingir até 30 metros de altura, como a braúna e o pau ferro, e arbustos de pequeno porte que perdem as folhas durante o período de estiagem para economizar água, este ecossistema concentra mais de 3 mil espécies de plantas e flores, sendo que cerca de 720 são nativas, ou seja, só existem na região. Além de sua importância para a biodiversidade, essas espécies desempenham um papel fundamental no ciclo da água e na regulação do clima da região.
A diversidade da fauna é tão impressionante quanto a da flora. São mais de 1.200 espécies de animais catalogadas, entre elas, 548 espécies de aves, 371 espécies de peixes, 183 espécies de mamíferos, 98 espécies de sapos e 79 espécies de lagartos. Muitas dessas espécies são endêmicas, ou seja, só existem na região da Caatinga, tornando-a um dos ecossistemas mais importantes para a conservação da biodiversidade brasileira.
Apesar da sua importância, a caatinga é um dos biomas brasileiros mais ameaçados pela ação humana. Um mapeamento divulgado em março de 2022 através de uma parceria entre a Associação Caatinga e pesquisadores de diversas universidades federais brasileiras aponta que metade do território já foi devastado, e que em apenas 37 anos houve uma redução de áreas nativas maior que 6 milhões de hectares. Além disso, cerca de 13% do território está em estágio avançado de desertificação.
Esse cenário de devastação também afeta a biodiversidade. A pesquisa alerta para a ameaça de extinção de 106 espécies animais da região, e revela que apenas 2% do território está em áreas de conservação com proteção integral.
As mudanças climáticas também contribuem para a degradação da Caatinga. O aumento da temperatura e a redução das chuvas estão intensificando os processos de desertificação e comprometendo a sobrevivência da fauna e flora local. Além disso, eventos climáticos extremos, como secas prolongadas e chuvas intensas, estão se tornando mais frequentes, o que agrava ainda mais a situação da região.
A exploração desenfreada dos bens naturais e a poluição, tais como a queima de petróleo por automóveis e indústrias, o desmatamento e as queimadas para a implementação de grandes projetos energéticos, a decomposição do lixo em locais impróprios, o uso de agrotóxicos e a criação desordenada de gado, são as raízes de muitos dos problemas atuais. Esses fatores têm como consequência uma aceleração das mudanças climáticas e estão diretamente ligados à degradação ambiental.
No semiárido brasileiros os efeitos das mudanças climáticas têm se intensificado, causando preocupação com a diminuição do volume de água nos reservatórios, dificuldades na produção de alimentos no campo, aumento de doenças epidêmicas e impactos na saúde devido ao aumento das temperaturas e desequilíbrio ambiental.
Portanto, neste dia 28 de Abril, Dia Nacional da Caatinga, mais do que celebrar, é momento de reforçar que a preservação da Caatinga em Pé é fundamental para a manutenção da biodiversidade e da cultura de uma região semiárida que abriga mais de 28 milhões de pessoas.
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Foto: Eixo de Educação e Comunicação – Irpaa