Ramais ligados à BR-319 levam fogo a áreas protegidas da Amazônia

Estradas secundárias à BR-319, que liga Manaus (AM) a Porto Velho (RO), são vetores de desmatamento e queimadas no sul do estado do Amazonas.

ClimaInfo

O Amazonas tem sofrido bastante com as queimadas nos últimos meses. Uma das áreas que registraram o maior número de incêndios é o Sul do estado, especialmente ao longo da rodovia BR-319. Um levantamento feito pelo InfoAmazonia a partir de dados do INPE mostrou que a área de influência da rodovia (40 km ao redor de seu traçado) registrou 1.842 focos de calor somente este ano (até 26 de setembro), cerca de 13% do total registrado no estado.

Considerando apenas os quatro ramais ligados à BR-319 – as rodovias estaduais AM-254, AM-354, AM-364 e AM-366 – o número de focos de calor deste ano mais que dobrou em comparação com o mesmo período em 2022. O acumulado saltou de 805 focos no ano passado para 1.753 neste ano.

O maior registro de fogo ocorreu na AM-254; os trechos pavimentados, que abrangem mais da metade da rodovia, respondem sozinhos por 873 focos de calor neste ano, metade do total observado nas quatro estradas. Os trechos asfaltados cortam os municípios de Careiro, Autazes e Nova Olinda do Norte, além de 18 Terras Indígenas (TI) e seis Unidades de Conservação (UC).

Já a rodovia AM-354, que conta com 42,81 km pavimentados entre Careiro e Manaquiri, registrou 254 focos de calor em sua área de influência, que impacta diretamente outros seis territórios indígenas e duas áreas de proteção ambiental.

Como resultado, o número de queimadas registrado nessas Áreas Protegidas (AP) aumentou neste ano, bem como a vegetação consumida. Por exemplo, a TI Barreira da Missão, no município de Tefé, teve mais de 50% de sua área consumida pelo fogo neste ano, sendo a Área Protegida mais queimada no Amazonas até agora.

Os dados indicam que a BR-319 e sua rede de ramais – que, aliás, é quase seis vezes maior que a própria rodovia – seguem funcionando como um facilitador do processo de destruição florestal no sul do Amazonas. A despeito disso, as autoridades estaduais e mesmo políticos dentro do governo federal seguem defendendo o asfaltamento do chamado Trecho do Meio. Especialistas indicam que a obra pode intensificar ainda mais o desmatamento e a grilagem na região.

Foto: Greenpeace

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