Pistoleiros invadem T. I. Alto Turiaçu, Maranhão. Ka’apor fazem um prisioneiro. Autoridades se omitem

Tania Pacheco

Pistoleiros invadiram há pouco a Terra Indígena Ka’apor de AltoTuriaçu. Os indígenas reagiram e conseguiram imobilizar um dos invasores, que está retido na ramada (centro) da aldeia Zé Gurupi neste momento.

Chamada, a polícia civil de Zé Doca alegou só ter uma viatura e disse que “talvez” às 15:00 mandasse um carro para a aldeia, “sem certeza”. Até o momento, ninguém apareceu.

Os Ka’apor temem reação de madeireiros nas próximas horas. Corre a notícia de que os invasores estão armados nas estradas de acesso à aldeia Zé Gurupi, e há temor de emboscadas.

Há cinco dias, guardas florestais indígenas abordaram madeireiros dentro do território e confiscaram quatro motos, depois devolvidas ante ameaças de mais violência.

Os Ka’apor já tentaram contato com a Procuradoria da República no Maranhão, o Ibama e a Polícia Federal, até agora sem sucesso.

Resumindo: continua extremamente tensa e preocupante a situação dos povos indígenas no Maranhão, assim como se mantém a omissão das autoridades distas competentes. Quantos mais devem morrer, antes que as leis sejam respeitadas nesta republiqueta?

Contas pendentes

Um dos casos mais chocantes envolvendo a inércia das chamadas autoridades em relação a esse povo indígena é o de Irauna Ka’apor, de 14 anos, sequestrada por madeireiros em fevereiro e até hoje desaparecida. As noticias mais recentes dão conta de que ela estaria sendo mantida num acampamento madeireiro na divisa com o Pará. Há um mês, a Funai prometeu que iria resgatá-la. Neste caso, os Ka’apor (e Irauna) continuam esperando. Mas a verdade é que nem sempre a paciência prevalece…

No que diz respeito à saúde, a situação não é menos grave. Semana passada, os Ka’apor ocuparam o Pólo Base de Zé Doca. Como eles dizem, “o descaso na saúde fez mais uma vítima: a jovem Socorrin Ka’apor, 26 anos, mãe de cinco crianças e moradora da Aldeia Ximborenda, a maior aldeia do território indígena Alto Turiaçu”. Socorrin morreu num hospital de São Luiz, depois de ter sido devolvida duas vezes para sua aldeia pelos responsáveis pelo Pólo Base de Zé Doca. De acordo com o desabafo dos Ka’apor,

“Esses funcionários do Pólo Base não falaram a verdade para a família da jovem. Primeiro, falaram que estava com infecção urinária. Depois, falaram que morreu de pneumonia. O descaso do Pólo Base de Zé Doca fez as estatísticas de óbitos duplicarem em relação ao ano de 2015 quando o conselho de gestão Ka’apor tinha participação direta e acompanhava. (…) Estruturaram o pólo base só pra eles trabalhar melhor e os nossos parentes nas aldeias ficarem na pior, sofrendo, morrendo. Não tem medicamentos para os casos graves, não tem postos de saúde na maioria das aldeias, não tem técnicos em todas as aldeias, não aceitam tratar os parentes com pajés, não tem consultas para especialistas, e muitas coisas para nossos parentes viverem com saúde. (…) É a sexta morte por omissão e descaso.”

Finalmente, não custa relembrar que o assassinato de Eusébio Ka’apor, importante liderança na luta pela território que foi morto em 26 de abril de 2015, continua sem qualquer punição. 

Brasil…

Destaque: O pistoleiro imobilizado na Aldeia Zé Gurupi. Foto: Ka’apor.

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