Seca extrema é provável causa da contaminação no Rio Iriri

Pesquisadora diz que sobrevoo e investigação por terra não detectaram atividades ligadas ao agronegócio; etnias sofrem com fome ou comem peixes contaminados

Fábio Vendrame – De Olho nos Ruralistas

A contaminação que já matou milhares de peixes no Rio Iriri, no Pará e no Mato Grosso, está provavelmente relacionada à seca extrema e à proliferação de microrganismos, de acordo com laudo preliminar elaborado pela professora doutora Solange Aparecida Arrolho da Silva, responsável por coordenar o Laboratório de Ictiofauna da Amazônia Meridional, na Universidade de Mato Grosso (Unemat). O problema tem prejudicado cerca de 1.200 indígenas Kayapó e outros 540 índios Paraná.

“Tanto em sobrevoo como por terra não foram detectadas atividades ligadas ao agronegócio que pudessem ser responsáveis pela contaminação das águas do Rio Iriri e afluentes”, disse ela ao De Olho nos Ruralistas. “Ao contrário, as regiões que banham a área afetada são bastante íntegras, com poucas formações de pastagens. A causa provável são situações ambientais decorrentes de extrema seca e crescimento de microrganismos”.

As informações constam do relatório preliminar que traz os resultados de duas visitas técnicas realizadas no local afetado pela equipe da Unemat, em parceria com Ibama, Funai e Secretaria da Saúde Indígena (Sesai). Os indígenas da região dependem do Rio Iriri para obter alimentos e água, mas, por causa da contaminação, estão impossibilitados de exercer suas atividades básicas de subsistência. Para suprir a fome que assola as aldeias, a Funai encaminhou 150 cestas básicas e a Sesai ficou responsável pelo abastecimento de água para os indígenas.

A partir desta semana a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) deve doar 90 toneladas de frutas, hortaliças, verduras e ovos para suprir as necessidades de 751 índios que estão em situação grave de insegurança alimentar, atendimento emergencial solicitado pelo Distrito Sanitário Especial Indígena Kayapó de Mato Grosso. Os alimentos encaminhados foram adquiridos por meio do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA).

Técnicos da Funai monitoram a área. Há um temor de que a contaminação alcance a região do Médio Xingu, onde vivem etnias como Arara e Xipaia. Com cerca de 900 quilômetros de extensão, o Rio Iriri deságua no Xingu. Principal curso d’água de Altamira, no Pará, o Iriri também atravessa áreas habitadas por índios isolados.

Foto: Mario Vilela/Funai

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