Um crime premeditado e etnocida

Por Diane Porto

Esse crime horrendo, às vésperas do Ano Novo, que tirou a vida de um menino Kaingang de 2 anos no colo de sua mãe que o amamentava, desde o primeiro momento que eu soube, três horas depois da barbárie, acabou de vez com qualquer desejo de comemoração festiva que eu pudesse estar alimentando.

Um crime premeditado sim, e etnocida, em nenhum momento duvidei disso. E não por intuição, mas por dados concretos, facilmente comprováveis pelo histórico comportamental da sociedade brasileira em geral* e, especificamente, dos comerciantes e políticos catarinenses como foi noticiado nos últimos dias, na cidade de São Miguel do Oeste**.

Este foi um crime cometido por alguém fortemente influenciado, assim como a maioria do interior riograndense é influenciado, pelos discursos eugênico-higienistas de políticos ruralistas como Heinze e Alceu Moreira***, que saem em campanhas pelo Brasil, disseminando mentiras, ódio e violência contra os indígenas, quilombolas e gays.

O assassino tinha um alvo específico, uma direção certa, um objetivo claro e o concretizou sem hesitar. Estava no seu sub-consciente uma ordem programada, não por ele mesmo, mas programada por sua cultura etnocêntrica alinhada com o senso comum de milhares de brasileiros criados, educados e/ou submetidos pelo antigo e perverso paradigma colonizador, invasor, predador e assassino implacável.

Sim, ele não é um assassino solitário que levado por sua mente doentia cometeu um crime isolado. Ele não estava sozinho no momento que cortou a garganta do pequeno Vitor! Ele estava acompanhado por milhões de brasileiros das zonas rurais e urbanas, pobres, ricos, brancos, negros, católicos, protestantes, afro-religiosos, ateus, jovens, adultos, velhos, trabalhadores, desempregados, estudantes, profissionais formados, militantes de direita, esquerda, anarquistas, políticos de todos os partidos e da mídia tradicional.

Também ao lado do assassino estavam os velozes internautas que a tudo veem, mas não se importam nem se rebelam, assim como fizeram os antepassados. Todos cúmplices, com raríssimas exceções, todos criminosos passíveis do julgamento por crimes de lesa humanidade que, um dia, uma outra Humanidade fará.

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