Opy, a Casa da Vida Guarani

Por Thereza Dantas, em Combate Racismo Ambiental

Dias 5 e 6 de janeiro de 2016 foram de festa na aldeia Itaxim Paraty Mirim Guarani Mbya, localizada no município de Paraty (RJ).  Durante dois dias parentes das aldeias Araponga (Paraty, RJ), Bela Vista (Ubatuba, SP), Sapukai (Angra dos Reis, RJ), Maracanã (Rio de Janeiro, RJ), Ponte Pequena (Paraty, RJ) Boa Esperança e Três Palmeiras (Aracruz, ES) comemoraram os 20 anos da homologação da terra indígena de Paraty Mirim e a inauguração da Casa de Reza, a Opy.

É inegável a importância da demarcação da terra indígena, mas para os guaranis a Opy é o local sagrado na vida da comunidade. Segundo a pesquisadora do Projeto Sagrado Brasileiro, Papiõn Cristiane Karipuna, é na Opy que “a criança ganha nome no batizado, onde as sementes dos primeiros milhos estão aguardando um novo plantio, é o local mais apropriado para fumar seu petygua (cachimbo). É o local aonde as reuniões acontecem, os noivos são aconselhados e as brigas acabam”.

casa de reza paraty2Cerca de 300 pessoas participaram do encontro que teve uma programação intensa com apresentações dos corais indígenas, competição de arco e flecha e exposição de fotos. Mas o ponto alto do evento foram as rodas de conversas entre caciques e jovens. Temas como drogas, alcoolismo, preservação das tradições, história da demarcação das terras indígenas, internet, TV e PEC 215 foram tratados nesses momentos pelos guaranis. Os bate papos aconteceram na língua guarani e muitos jovens ouviram caciques contarem sobre a importância da Opy na preservação da cultura guarani.

casa de reza paraty3Com o aumento do assédio de outras religiões às aldeias indígenas, a inauguração da Opy, Casa de Reza, é um ato de resistência e de manutenção da cultura. Para o professor da aldeia Sapukai, Algemiro Silva, toda a festa “não teria sentido para os guaranis se não tivesse um parente orando e agradecendo a Nhanderu a construção da nova Opy.”

casa de reza paraty5A Casa de Reza da Aldeia Itaxim só tem uma porta, voltada para o leste, aonde nasce o Sol. O interior não possui divisórias, não há janelas, para que espíritos indesejáveis não possam entrar, e o chão é de terra batida. Segundo o Joaquim Karay Benites, o construtor da casa de Reza, foram necessários três meses para a construção de pau a pique. O processo se deu de forma coletiva com a coordenação do Cacique Miguel Karai Tataxi’, Joaquim e cerca de 10 jovens indígenas, com a transmissão dos conhecimentos como a escolha da madeira para a fundação, tratada fora da época de lua nova, até o tratamento com fumaça nas peças de bambu para evitar fungos e carunchos.

casa de reza paraty criancasOrganizada pela liderança indígena Ivanildes Kerexu da Silva, o encontro contou com o  apoio de diversas instituições públicas e privadas, foi um momento de intensas trocas com direito ao nascimento, no dia 6 de janeiro, de Alexandre, o mais novo guarani, filho de Alexandre e Priscila Kuaray Mirim.

Finalizando a programação, o cacique Toninho Werá Kwarai, aldeia Boa Esperança, no “Encontro com o Mar” contou às crianças, que o ouviram sentadas na areia da praia de Paraty Mirim, como é importante na caminhada para a Terra sem Males, o respeito às força da Natureza. Para o cacique “não é o homem quem navega o mar, mas o mar que diz ao homem como navegar”.

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Fotos: Thereza Dantas

Comments (2)

  1. Parabéns pela iniciativa. E de extrema necessidade as temáticas desenvolvidas por este site. A cultura indígena tem que ser repensada dentro das politicas educações de forma mais realista e participativa.

  2. Muito lindo! Adorei, essas são as nossas soberania, sem essa cultura, conhecimento, tradição e valorização, não somos nadas.

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