MPF questiona valores gastos em campanha publicitária da Samarco

G1 teve acesso a ofício em que órgão questiona empresa sobre valor. Após receber denúncias, Conar também apura propagandas da Samarco.

Pedro Ângelo, do G1 MG

O Ministério Público Federal em Minas Gerais (MPF-MG) enviou à Samarco um ofício em que questiona os valores da campanha publicitária da mineradora, cujas donas são a Vale e a BHP Billiton, em diversos veículos de comunicação. O G1 teve acesso ao documento no qual a força-tarefa de procuradores pede o nome da agência responsável pela campanha, os valores gastos e a cópia do contrato.

O MPF confirmou as informações e disse que o ofício foi enviado à mineradora nesta quinta-feira (18). Nas propagandas, a Samarco mostra relatos de funcionários e moradores de regiões atingidas sobre as ações da empresa após o desastre. O G1 entrou em contato com a assessoria da mineradora e aguarda retorno.

De acordo com o Ministério Público Federal, causou estranheza aos procuradores a Samarco alegar dificuldades financeiras e ao mesmo tempo bancar uma campanha publicitária do porte e em horário nobre.

A barragem de Fundão, que pertence à Samarco, rompeu-se no dia 5 de novembro de 2015, destruindo o distrito de Bento Rodrigues, em Mariana, e afetando outras localidades, além das cidades de Barra Longa e Rio Doce. Os rejeitos também atingiram mais de 40 cidades na Região Leste de Minas Gerais e no Espírito Santo. O desastre ambiental é considerado o maior e sem precedentes no Brasil.

Após o desastre, todas as atividades da Samarco na região de Bento Rodrigues, em Mariana, foram suspensas pela Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas Gerais. Conforme o órgão informou à época, a empresa não poderia operar a mina de Germano, de onde extrai minério de ferro, até que reparasse todos os danos causados pelo rompimento de Fundão.

Ao determinar o bloqueio de valores de até R$ 300 milhões de contas da Samarco em novembro de 2015, o juiz Frederico Esteves Duarte Gonçalves, de Mariana, fundamentou em seu despacho que a mineradora é uma “potência econômica”, que fatura anualmente quase R$ 8 bilhões e tem lucro de outros quase R$ 3 bilhões ao ano.

Conar apura denúncias
Nesta quinta-feira (18), o Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) abriu um processo para investigar a veracidade das informações das propagandas da Samarco veiculadas em canais de televisão. De acordo com o órgão, um conselho de ética com cerca de 150 pessoas deve julgar a campanha no mês de março.

O Conar informou que recebeu denúncias questionando as informações das propagandas da mineradora. Segundo o conselho, cerca de 50 pessoas encaminharam reclamações. O órgão informou que as denúncias são de consumidores dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo.

Ainda conforme a assessoria do Conar, o relator definido para apurar as informações das propagandas pode suspender a exibição do conteúdo antes mesmo do julgamento. O órgão afirmou que, caso todo o conteúdo do anúncio seja reprovado, a exibição da propaganda terá que ser suspensa no menor tempo possível. O conselho pode decidir ainda pela alteração do anúncio ou o arquivamento do processo.

Rompimento de barragem
O rompimento da barragem da mineradora Samarco é considerado a maior tragédia ambiental brasileira. Para o delegado Fernando Bustamante, que preside as investigações da Polícia Civil, o desastre é responsável por 19 mortes. No dia 5 deste mês, ele afirmou que as empresas Samarco, Vale e BHP e seus diretores têm responsabilidade sobre os homicídios, que são consideradas crimes.

Até o momento, 17 corpos foram resgatados da lama na região de Mariana e reconhecidos por parentes ou exames de identificação. Outros dois corpos ainda não foram localizados. Pela terceira vez, o prazo para concluir as investigações foi prorrogado e a nova data limite é 12 de março.

Imagem: Site de campanha publicitária da Samarco com relatos de moradores. (Foto: Reprodução/site da Samarco )

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