Justiça determina que Incra agilize regularização de terra quilombola

Sentença proferida pela Justiça Federal de São Paulo determina que Incra finalize processo de titulação do quilombo Pedro Cubas em prazo razoável. As 40 famílias quilombolas aguardam o título de suas terras há mais de 10 anos

Bianca Pyl – Comissão Pró-Índio de São Paulo

Em fevereiro deste ano, mais uma decisão no Judiciário Federal determinou que o Incra acelere a titulação de uma terra quilombola. No caso do Quilombo Pedro Cubas, localizado no município de Eldorado (SP) – a Justiça Federal acatou o pedido do Ministério Público Federal (MPF) e condenou o Incra a concluir em um prazo de seis meses o Relatório Técnico de Identificação e Demarcação (RTID), etapa inicial do processo de titulação.

Em sua sentença, a juíza Letícia Dea Banks Ferreira Lopes, – da 1ª Vara Federal de Registro (SP) considera que “Ainda que não haja no Decreto nº 4.887/2003 prazo para a confecção do Relatório Técnico de Identificação e Demarcação – RTID, dada a sua complexidade, não é razoável uma demora de aproximadamente 11 (onze) anos para sua conclusão”.

Acesse sentença na íntegra.

Dados da Comissão Pró-Índio indicam que parte do território de Pedro Cubas (2.443,721 hectares) foi titulada em 2003 pelo governo do Estado de São Paulo. Em de 2005, o Incra instaurou processo para titular o restante das terras da comunidade.

Jorlei da Costa Pereira, quilombola de Pedro Cubas, avalia que a demora do processo de titulação atrapalha as comunidades. “Muitas áreas que poderiam ser cultivadas pelas comunidades estão na mão de terceiros”, explica. Segundo ele, isso é a causa de muitos conflitos na região. “A titulação é garantia de direito das comunidades, manter sua cultura e viver e usufruir da terra”.

Atuação do MPF para regularização das terras quilombolas

A demora para conclusão dos processos de titulação, que em alguns casos chega a uma década, tem motivado o ajuizamento de ações civis públicas pelo Ministério Público Federal em outros casos. Monitoramento da Comissão Pró-Índio indica que decisões determinando maior celeridade dos procedimentos de titulação foram obtidas pelo MPF também no Rio Grande do Sul, Pará e Amapá.

No caso da Terra Quilombola Rincão dos Negros (RS), a decisão de abril de 2015 garantiu que o relatório de identificação (RTID) fosse publicado no prazo de um mês. O relatório, que estava pronto desde 2014, identificou uma área de 571,86 hectares a ser regularizada em benefício das 29 famílias da comunidade.

O procedimento de titulação de Rincão dos Negros foi aberto há mais de dez anos, como é o caso das terras quilombolas Alto Trombetas, em Oriximiná (PA). Neste caso, a Justiça Federal determinou, em 24 de fevereiro de 2015, que os processos de titulação de Alto Trombetas fossem concluídos no prazo de 2 anos. Transcorrido um ano da decisão, o processo de titulação permanece parado embora o RTID esteja concluído e tecnicamente aprovado desde 2013.

Neste caso, Ministério de Meio Ambiente (MMA), por meio do ICMBio, tem criado obstáculos à publicação do RTID de Alto Trombetas pelo Incra em função da sobreposição com duas unidades de conservação (Rebio do Rio Trombetas e Flona Saracá-Taquera).  Como lembra, Aluízio Silvério do Santos, morador da TQ Alto Trombetas, “quando criaram as unidades de conservação, a gente já estava lá”. Enquanto a titulação não sai, afirma ele, “O governo acha caneta para dar licença para mineração, mas não acha caneta para titular nossas terras”.

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