No Instituto de Estudos Latino-Americanos
O Brasil vive desde há anos o fortalecimento do movimento indígena autônomo e radical. A proposta de uma emenda constitucional (PEC 215) que retira da presidência a prerrogativa de definir as demarcações jogando a decisão para o Congresso Nacional levantou os povos numa luta renhida. Afinal, os indígenas sabem muito bem o que está em jogo: a cobiça do empresariado rural pela terra.
Diante do avanço do agronegócio para regiões como o cerrado e a Amazônia, e da construção das grandes obras hidrelétricas, dezenas de povos originários estão ameaçados de perder seus territórios.
Para o branco – fruto da civilização ocidental/cristã – parece cada dia mais incompreensível o mundo indígena e os políticos e empresários jogam muito bem com isso na opinião pública. A frase “muita terra para pouco índio” é repetida à exaustão, como se fosse uma verdade inquestionável. Que necessidade têm os índios de tanta terra? Perguntam os deputados, os mesmos que querem distribuir as terras indígenas aos seus amigos latifundiários.
Pois é necessário aclarar duas coisas básicas. Primeiro, quem tem muita terra são os fazendeiros, e poucos: 2,8% dos estabelecimentos rurais são grandes propriedades e ocupam 60% das terras produtivas. Já os indígenas brasileiros que totalizam 305 etnias ocupam apenas 12,5% do território nacional ( 106,7 milhões de hectares).
Segundo, a terra, para o índio, não tem a mesma significação que para o branco. Enquanto a cultura ocidental vê a terra como mercadoria, passível de ser comprada e vendida, impregnada de valor de troca, o indígena a concebe como um todo sagrado e visceralmente ligado à vida. Para um branco não há problema em comprar um terreno e depois vender, ir para outro terreno, fazer nova casa. Mas, para o indígena, o território é morada dos deuses, morada dos antepassados, está cheio da vida da comunidade. Sair de um lugar e ir para outro significa a morte.
Assim, para que as pessoas possam melhor compreender o significado do território para um povo indígena o projeto “Povos Originários de Nuestra América”, do IELA, que acompanha as lutas indígenas desde 2004, inicia agora uma série de vídeos, com entrevistas realizadas junto a lideranças indígenas, discutindo singularmente essa temática. A coordenação é de Elaine Tavares, com a participação de Rubens Lopes e Cris Mariotto, ambos participantes do grupo de extensão Indígena Digital, também do IELA, e coordenado pela professora Beatriz Paiva.
O trabalho, realizado nessa parceria, conta ainda com o apoio das entidades de organização indígena de cinco regiões do país: Apib, Coiab, Apoinme, Aty Guassu e Arpinsul.
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Projetos “Povos Originários de Nuestra América” e “Indígena Digital” , ambos do IELA, apresentam o debate sobre território e o que ele significa para os povos indígenas. Nesse primeiro vídeo a entrevista com Yawara-t Marulanda, do povo KoKama
Conheço a luta desta mulher guerreira que luta apenas para que seu povo indígenas sejam tratados com respeito e dignidade como rege a nossa Constituição.Nenhum direito a menos.