Amazonense [sic] ajuda a criar primeira rádio online indígena do Brasil: Yandê

Com conteúdo colaborativo, a programação tem de música a debates sobre a realidade indígena

Por Izabel Santos, no Portal Amazônia

MANAUS – Um amazonense, uma carioca e um baiano [sic] notaram que os indígenas tinham pouco espaço nos meios de comunicação. A alternativa para dar voz aos povos foi criar a primeira rádio online totalmente indígena do Brasil. “A Rádio Yandê surgiu a partir da constatação de que fatos nunca aparecem de forma positiva ou justa na mídia de massa brasileira”, explica um dos criadores, Denilson Baniwa ao Portal Amazônia. Hoje o alcance da rádio Yandê é de mais meio milhão de ouvintes e as 24 horas de programação são preenchidas com música, informação, poesia, depoimentos e debates.

A ideia começou a ganhar contornos sólidos quando Denilson e mais dois amigos, o baiano Anapuáká Tupinambá e a carioca Renata Tupinambá, se uniram e concretizaram a iniciativa. “Surgimos em 2013, como web rádio, e logo nos transformamos em um portal de notícias e de cultura. Atualmente, temos cerca de 70 colaboradores e três correspondentes. É importante notar que somos todos indígenas”, destacou.

Denilson, que nasceu na comunidade Baturité, no município de Barcelos, no Amazonas, conheceu na faculdade no Rio de Janeiro, os parceiros ideais para criar a rádio.“Após a faculdade pensamos em meios de inserir questões indígenas dentro da mídia. Infelizmente, chegamos a conclusão de que seria impossível, pois os grandes meios estão ligados a grandes corporações que historicamente são anti-indígena, tais como ruralistas, bancos, etc.”, avaliou. Os três continuam morando no Rio, Anapuaká na capital e Denilson e Ranata em Niterói.

“A conclusão foi a óbvia: se não conseguiremos espaço dentro da mídia [tradicional], teremos que fazer nossa própria mídia, paralela e autônoma. Tínhamos conhecimento de experiências em etnomídia e etnocomunicação dos povos indígenas das Américas e foi neste contexto que resolvemos trabalhar, e assim começamos a construir um cenário de etnomídia no Brasil”, relatou.

O conteúdo da Yandê é dividido em notícias, artigos e produção autoral. “A Internet é o principal meio de comunicação, por ela colhemos materiais e todo o conteúdo”, diz Denilson. A rede também é um aliado na produção do conteúdo. “Nossas entrevistas são feitas por WhatsApp ou Skype e as sugestões de pauta também são enviadas pelo Whatsapp, Telegram e Facebook”, explicou.

Os correspondentes fazem a ponte entre as comunidades indígenas e a Yandê. “São a Daiara Tukano, em Brasília, Vavá Terena, no Mato Grosso do Sul, e a Djuena Tikuna, no Amazonas. Além disso, os 70 colaboradores que estão nas comunidades e nas cidades que nos atualizam sempre que algum fato ocorre no Brasil”, explica.

Por meio do conteúdo oferecido pela rádio, os três esperam desmistificar o indígena para o País, “mostrando que o índio de 1500 não existe, além de promover e fomentar a produção indígena em todas as mídias, seja áudio, vídeo e escrita”.

O perfil da audiência, segundo Denilson, é a mais diversa possível. “Temos de crianças a idosos, de amazonenses a russos. Somos acessados em 60 países, além de todo o território brasileiro”, revela.

Experiência pessoal como motivação

Para o amazonense Denilson Baniwa, a motivação para a criação da rádio vai além de divagações. “Eu tenho uma história que me deixou bem afim de quebrar estereótipos”, garante. A seguir o relato.

“Tenho um tio que é sociólogo, ele se chama Benjamim Baniwa. Um dia a Universidade de Roraima o convidou para uma palestra sobre identidade e resistência. Ele foi e levou um aluno que era orientando dele na universidade onde era professor em Manaus. Ele e o aluno, que era branco, tinham mais ou menos a mesma idade. Quando eles chegaram em Roraima, e foram buscá-los, trataram meu tio com desdém e friamente, enquanto o aluno foi tratado por senhor, doutor e etc. A coisa era que o pessoal de Roraima achou que o professor era o aluno, e não ele. Afinal, né, como alguém com ‘cara de índio’ seria importante no meio acadêmico? Meu tio deixou rolar toda a cena, pois usaria isso como exemplo quando chamaram o ‘professor Benjamin ao palco para a palestra’. Nessa hora recebeu inúmeros pedidos de desculpas. Isso é uma experiência bem pessoal, pois onde está um indígena e um branco, as pessoas sempre acham que o branco é sempre superior, seja em intelecto ou capacidade técnica. Fatos parecidos ocorrem comigo, mas neste nível, pois meu tio estava numa Universidade, lugar teoricamente de conhecimento e desmitificações.”

Denilson (de cinza), Anapuaká (de laranja) e Renata. Foto: Rádio Yandê.

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