Cancelado o VIII Seminário Índio Caboclo Marcelino 2016, dos Tupinambá

“…enfim/ não tem fim/ vida corre/ como as águas
dos mais puros rios/ neste mundaréu/ dos senfins”
(Casé Angatu)

Por Comissão Organizadora do Seminário Índio Caboclo Marcelino

Com tristeza comunicamos o cancelamento neste ano de 2016 do nosso Seminário Índio Caboclo Marcelino que seria realizado entre os dias 22/09/2016 – 25/09/2016 no Território Indígena Tupinambá de Olivença a partir de nossa Aldeia Gwarini Taba Atã. Este decisão foi tomada após reunião da Comissão Organizadora (05/09) e após conversa com nosso Cacique Gildo (06/09).
Escrevemos com tristeza este cancelamento porque a finalidade de nosso Seminário, bem de todas as atividades que realizamos fora de nosso Território, foi, é e sempre será ampliar o número de aliados, fortalecer os que já apoiam e fortificar os Parentes da/na luta dos Povos Indígenas e em particular do Povo Tupinambá. Por isto é realizado à véspera da “XVI Caminhada Tupinambá em Memória aos Mártires do Massacre do Cururupe” no dia 25/09/2016 que está mantida.

Este nosso Seminário é autogestionário, autônomo e coletivista, seguindo os princípios da alteridade e sem depender de verba de estados, ONGs, instituições religiosas, órgãos e projetos de arrecadação internos e externos. O “Seminário Índio Caboclo Marcelino” não possui fins lucrativos e nenhuma forma de financiamento público/privado. Frisamos isto porque desejamos realizar nossas atividades com completa autonomia e de forma auto sustentável. Está é a forma como pensamos que deveria ser feita a luta indígena. Portanto, são princípios inspirados na luta dos Parentes Zapatistas do México e Mapuche Chile/Argentina. Somos quem nem abelhas… vivemos do mel que produzimos.

Narramos o cancelamento com tristeza também porque o Seminário é constituído por momentos de trocas e fortalecimentos de saberes e encantamentos que fogem à imaginação.

O cancelamento decorreu, além da crise econômica, de “ameaças” que recebemos por e-mail e por escrito envolvendo o Seminário e um de seus organizadores. Mas não iremos postar as “ameaças” porque não desejamos oferecer destaque a algo que merece ser ultrapassado com as forças de nossas Encantadas/Encantados.

Só salientamos que estas “ameaças” representam que aqueles contrários à nossa luta se sentiram eles sim ameaçados. Amedrontados estão eles pela grandeza das energias que advém dos que nos apoiam durante o Seminário e, principalmente, da Luta do Povo Tupinambá.

Encurralados estão eles pelas energias que emergem das águas, brotam da terra, pairam pelo ar e pulsam em nossas Angas Gwarinis Atas.

Estas “ameaças” que recebemos demonstram nossa força. Podemos até aparentarmos frágeis diante das “ameaças” físicas que recebemos e sofremos. Muitos de nossos Parentes morreram (ainda são mortos), sofreram (ainda sofrem) violências físicas e espirituais. Mas somos fortes e nossas forças advém de outro plano que vai além de nossos corpos: nossa luta é ritual e natural.

Assim como o silêncio que fala, não precisamos falar para dizermos ou ouvirmos o que vivenciamos. Não precisamos ver para enxergarmos e nem tocarmos para sentirmos. Assim desta maneira o Seminário Índio Caboclo Marcelino irá acontecer mesmo não acontecendo fisicamente.

Foto: Mauricio Pinheiro durante uma das edições de nosso Seminário.

Enviada para Combate Racismo Ambiental por Lara Schneider.

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