Indígenas acampam em São Gabriel da Cachoeira em busca de benefícios sociais – Parte 1

Por Maíra Heinen, na EBC

Entre os meses de dezembro e março, na cidade de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, barracos de lona e papelão vão surgindo à beira do Rio Negro. São centenas.

Formam um grande acampamento de índios hupd’äh e Yuhupdëh, que chegam das áreas próximas à divisa com a Colômbia. O senhor Américo Socot, do povo Hupd’äh, conhece bem essa dinâmica e o que ela vem causando aos parentes.

De contato relativamente recente, nos últimos anos e após mutirões de documentação, os índios hup e yuhup, como são também conhecidos, começaram a se deslocar com mais frequência para a sede do município.

Eles seguem em busca de documentação e benefícios, como o Bolsa Família e salário-maternidade. Chegam com toda a família e com alimento para se manterem durante semanas, mas a estadia dura meses. Uma demora que desencadeia diversos problemas para a população de acampados.

A dificuldade com o idioma também piora a situação, como explica o coordenador da Funai Alto Rio Negro, Domingos Sávio, indígena do povo Tucano.

Na opinião do antropólogo e pesquisador do povo Hup’dah, Renato Athias, a busca dos indígenas por benefícios como o programa Bolsa Família, neste caso, não consegue amenizar problemas conjunturais. Acaba, pelo contrário, aumentando as adversidades.

O Ministério Público Federal acompanha a situação e chegou a realizar audiência pública no município para ouvir os índios e buscar soluções. Para o procurador Fernando Merloto, talvez o erro tenha ocorrido na forma de conceder esses benefícios sociais.

Sobre a concessão de benefícios, o Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário explica que trabalha com uma estratégia chamada Cadastramento Diferenciado.

Segundo o ministério, um material de capacitação e instruções foi desenvolvido para orientar os municípios sobre o correto atendimento aos grupos tradicionais, como as famílias indígenas. Uma recomendação que, em São Gabriel da Cachoeira, parece não ser seguida à risca pelos órgãos responsáveis.

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