Um ano depois de conflitos e invasão de aldeias, madeireiros retomam suas atividades na Terra Indígena Alto Turiaçu, Maranhão

Por Cani

Há mais de 1 mês as lideranças do Conselho de Gestão Ka’apor e Guardas Florestais idenificam a presença ou retorno de madeireiros para antigos ramais fechados por ocasião das constantes operações realizadas pelo próprio povo. Mas, nesses últimos meses, com um contexto de divisão entre o povo incentivado por servidores da FUNAI Maranhão, opondo-se um pequeno grupo de lideranças ao Conselho de Gestão Ka’apor que tem acompanhado o conselho de 14 aldeias.

Esses fatos têm ameaçado processos organizativos criados nesses últimos 4 anos após a 1ª Assembleia Ka’apor, potencializado pelo Acordo de Convivência pactuado entre o povo que tem sido descumprido por lideranças dissidentes, aliciados aos ilícitos ambientais. Logo, outros processos construídos para a organização interna do povo tem sido prejudicado e afetado, como o andamento das atividades educativas e formativas na educação escolar indígena nas aldeias e no Centro de Formação Ka’apor; impossibilitando a participação de gestores na condução e gestão de uma saúde indígena de qualidade junto ao Polo Base de Saúde; dificultando o acesso aos benefícios sociais com a decisão arbitrária e autoritária da CR Funai Maranhão em exonerar Itahu Ka’apor e; comprometendo as ações de monitoramento territorial e ambiental contra a exploração ilegal de madeira.

Essas praticas tem ameaçado e procurado deslegitimar os processos organizativos retomados pelo povo, a única instancia de decisão do povo que chamam de Tuxa tá pame que é o Conselho de Gestao Ka’apor. Tentam desviar o foco das atenções para evitar ações de monitoramento territorial e ambiental que foram determinantes para a proteção do território. Percebe-se um investimento de agentes externos junto a lideranças para a divisão e o conflito. Seja agentes governamentais, sejam agentes agressores do meio ambiente. Logo, os agentes colaboradores dos processos acumulados ao longo desses quase quatro anos passam a ser visto como obstáculos de um plano arquitetado que precisa ser executado, implantado para o retorno dos ilícitos ambientais. Afinal, o PIB da região precisa crescer, a região precisa voltar a desenvolver, como discursava os candidatos a prefeito eleitos na corrupção eleitoral, aliados da bancada ruralista-madeireira na ALEMA.

Diante disso, corre o silencio sobre as agressões, tiros, invasões de aldeias, assassinatos de indígenas no Território Indígena Alto Turiaçu. Ninguém se pronuncia, nem apura e nem faz a justiça acontecer.

Mas, o que vemos é parcerias entre o órgão que deveria garantir a proteção dos territórios indígenas e o que deveria garantir a segurança de todos os cidadãos, reprimindo, perseguindo indígenas. Invés de coibir os assaltos e roubos diversos a órgãos públicos e agencias bancarias na região, retirar as pessoas que ameaçam a integridade física e social, temos uma policia que persegue indígenas tomando motocicletas, abordando indígenas e apreendendo caminhonetes que prestam serviços sociais aos indígenas.

Porém, o Conselho de Gestao Ka’apor afirma que não vão esperar pelo governo para proteger seu território. Eles próprios tem garantido a proteção dele para poderem executar seu plano de vida conforme determina a floresta.

Nesse sentido, o Conselho de Gestão Ka’apor conclama a todos os cidadãos a lutarem contra as leis e medidas autoritárias e anti-indígenas do Governo Temer, contra a regularização dos territórios de outros povos no Brasil e pela defesa dos Territórios e das Florestas. Pois, a cada dia que passa aqui na região os “cupins” seguem enfileirados aliciando jovens e adultos pobres e desempregados da periferia e do campo na região a se tornarem mão de obra barata nas frentes de exploração madeireira, seja na derrubada, no transporte e no beneficiamento nas serrarias clandestinas no entorno ou no interior da terra indígena. Ressaltando que as noites e as madrugadas são horários preferidos para a pratica desses ilícitos e grande parte do beneficiamento tem sido realizado no interior do território onde se tem deslocado equipamentos para facilitar o transporte mais rápido das cargas, sejam em caminhões abertos, mas cobertos com lonas ou caminhões fechados. Conforme a Guarda Florestal Indígena já chegam a (6) seis o numero de ramais reabertos nos municípios de Zé Doca, Araguanã, Nova Olinda do Maranhão, Centro do Guilherme e Centro Novo do Maranhão.

Na foto, a liderança Eusébio Ka’apor durante protesto pela proteção do território. Eusébio foi assassinado em 26 de abril de 2015.

 

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