No Brasil, o agronegócio ocupa muito espaço e não alimenta nem 30% da população. Ao contrário, forma milícias para matar gente, lidera casos de trabalho escravo e intimida opositores.
Imagine uma organização feita por uma minoria de indivíduos que é dona da maioria das terras. Cujos membros estão entre os campeões de trabalho escravo e desmatamento e chegam a formar milícias de terroristas armados. Uma organização que tem representantes na política que se empenham em intimidar opositores. Este é o agronegócio no Brasil.
Um relatório da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), ligada à ONU, demonstrou veementemente que o agronegócio está destruindo recursos da América Latina. Segundo a agência, 70% do desmatamento ocorrido na região entre 2000 e 2010 se deu por culpa dos grande produtores rurais (1).
Segundo outro relatório internacional, as comoditties que mais causaram destruição de florestas foram, nesta ordem (2): gado, soja, óleo de palma e madeira.
Se não bastasse a devastação causada por esse setor econômico, pesa sobre ele o fato de que concentra terras, deixando gente sem trabalho e sem possibilidade de autossustento. Segundo pesquisa da OXFAM, 1% dos produtores rurais possuem 45% de toda a terra no Brasil (2).
Toda essa concentração de terras e devastação podem até servir para aumentar o Produto Interno Bruto, mas o brasileiro, ao que parece, não come PIB. Vem da agricultura familiar 70% de toda a alimentação dos brasileiros (3), enquanto a destruição do agronegócio serve para exportação e para fazer ração de vaca.
Se isso tudo não bastasse, o agronegócio brasileiro é responsável por formar grupos armados que assassinam pequenos produtores, índios, quilombolas e ativistas socioambientais (5). Provavelmente graças a isso, o Brasil foi campeão de assassinatos de ativistas da terra e do meio ambiente em 2015, com 50 casos no ano (6).
Vários setores do agronegócio estão entre os principais acusados de trabalho escravo (7) e seu braço político, a bancada ruralista, participou ativamente da ruptura democrática de 2016 e chega a ameaçar a liberdade de expressão. Um de seus membros, o senador Ronaldo Caiado, propôs instaurar uma comissão para intimidar uma escola de samba do Rio de Janeiro, cujo tema era favorável aos índios do Xingu (8).
O que pode ser feito quanto a isso?
- Exigir, através de manifestações e organizações políticas, que os culpados por crimes (escravidão, assassinato, extração ilegal de madeira) sejam penalizados.
- Reduzir ao máximo ou recusar o consumo de carne e produtos oriundos da pecuária.
- Preferir produtos orgânicos, certificados, da agricultura familiar. Tentar comprar direto do produtor.
- Defender, nos meios a que tiver acesso, os grupos que sofrem com o rolo compressor do agronegócio.
- Não apoiar candidaturas políticas que tenham ligação com a bancada ruralista ou que tenham objetivos desenvolvimentistas.
- Outras formas de protesto? Use a criatividade.
Notas:
(1) http://www.fao.org/documents/card/en/c/6547e46e-3e6f-4c47-8dcb-8c5c19a18e00/
(2) http://www.forest-trends.org/documents/files/doc_5248.pdf
(3) http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2016-11/menos-de-1-das-propriedades-agricolas-detem-quase-metade-da-area-rural
(4) http://www.brasil.gov.br/economia-e-emprego/2015/07/agricultura-familiar-produz-70-dos-alimentos-consumidos-por-brasileiro
(5) https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/reuters/2017/01/12/fazendeiros-brasileiros-formam-milicias-contra-ativistas-da-terra-diz-human-rights-watch.htm
(6) http://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2016-06/brasil-lidera-ranking-de-mortes-de-ambientalistas-em-2015-diz-ong
(7) http://outraspalavras.net/deolhonosruralistas/2017/01/18/pecuaria-cafe-e-madeira-lideraram-casos-de-trabalho-escravo-em-2016/
(8) http://brasil.elpais.com/brasil/2017/01/13/politica/1484343086_484320.html?id_externo_rsoc=FB_BR_CM