“Assim como nós, o mundo todo ficou chocado com o massacre do povo GAMELA do Maranhão. Aconteceu no dia 30 de abril, próximo passado. 22 pessoas feridas a bala, facão, paulada, pedrada. Muitas em estado grave.
Os Gamela, como os demais povos indígenas que habitavam no Brasil antes da invasão portuguesa, em 1.500, tiveram suas terras invadidas.
Mais tarde, devido à resistência dos povos indígenas, a própria Coroa portuguesa demarcou um pedaço de terra para esses povos. Para os Gamela, a demarcação se deu em 1784.
Porém, já a partir de 1822, com a “independência” do Brasil, os fazendeiros começaram a tomar as terras demarcadas para os Gamela.
Aos poucos, os Gamela eram proibidos de falar sua língua, praticar sua religião, caçar, pescar e fazer artesanatos. Fora de sua terra, muitos acabaram casando com não índios, principalmente com descendentes de escravos. Daí esses indígenas passaram a ser chamados de CABOCLOS. Em 1940 já se considerava que o povo Gamela fora instinto. Não existia mais.
O que o branco não entendia é que o espirito indígena não morre. Mesmo após a morte do corpo dos mais velhos, ele sobrevive na natureza, na água, na terra, na floresta que é sagrada, é mãe. Por isso, os Gamela nunca desistiram de lutar para recuperar seu território. Nas décadas de 1960 e 1980, houve conflitos com os invasores de suas terras. Os governos nunca resolveram o problema desse povo. Fizeram vista grosa. Aos poucos, a própria população pobre e não indígena da região passou a acreditar que o povo Gamela não existia. Alguns, inclusive, passaram a ocupar a terra dos índios.
Baseados na constituição de 1988, os Gamela passaram a reivindicar legalmente a demarcação de seu território. Mas o governo não toma providências. A partir de 2014, o povo Gamela começa a retomar seu território. Já são oito retomadas.
Os políticos e fazendeiros da região passaram a insuflar (orientar) a população não indígena contra o povo Gamela. De vítima, os Gamela passam a ser culpados, como se eles fossem os ladrões de terra. Foi isso que levou ao massacre do dia 30 de abril.
Nós, do MCP, conhecemos o povo Gamela na ocupação da FUNAI de Imperatriz, em outubro de 2013, nos Encontros da TEIA no Maranhão, e na 5ª Jornada de Agroecologia da Bahia, em Porto Seguro, em abril de 2017. Uma amizade que só vem crescendo. Por isso, sentimos a mesma dor desse povo.
Todas as comunidades do MCP devem refletir sobre esse acontecimento. Ligar com nossa estratégia e trabalhar para construir uma frente popular com indígenas, quilombolas, camponeses e trabalhadores urbanos. Construir o poder popular e lutar por uma sociedade comunitária, para substituir o capitalismo, que é a causa dos massacres contra os povos do campo.
Não devemos esquecer que, “se os índios perderem a luta, todos nós seremos derrotados”.
É impossível defender a ecologia e o planeta, se não defendermos os povos do campo: indígenas, quilombolas, camponeses…
E Diga ao povo que avance!
Avançaremos!
MCP- Movimento das Comunidades Populares
JVC – Jornal Voz das Comunidades.