“Fascistas e democratas usam a mesma toga”, afirma desembargador do TJ-SC

Justificando

“Eu hoje, como professor da UFSC, sou uma pessoa que tem orgulho e alegria. Como desembargador, tenho vergonha. (…) Porcos e homens se confundem, fascistas e democratas usam as mesmas togas. Eles estão de volta. Temos que pará-los. Vamos derrubá-los novamente”, afirmou Lédio Rosa de Andrade, professor da UFSC e desembargador do Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJ-SC), em discurso sobre morte do reitor Luiz Carlos Cancellier, também conhecido como Cao.

A emocionante fala, que pode ser vista na íntegra abaixo, ocorreu na última terça, 03, em sessão solene fúnebre do Conselho Universitário na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em homenagem ao reitor, falecido na segunda feira após cometer suicídio em um shopping em Florianópolis. O caso despertou comoção nacional pela intensa espetacularização penal em volta da prisão do reitor, alvo da operação. Apesar de não ter sido comprovada sua participação em um suposto desvio de verba, Cao foi preso, exposto à espetacularização, isolado em ala do presídio para segurança máxima e, após ser solto, foi proibido de entrar na Universidade, local onde dedicou sua força de trabalho por mais de três décadas.

Em sua coluna no JustificandoWagner Francesco resumiu o sentimento: A humilhação e o vexame a que fomos submetidos — eu e outros colegas da UFSC — há uma semana não tem precedentes na história da instituição. Numa pretensa luta contra a corrupção, Cancellier foi acusado e, sem direito a ampla defesa e contraditório, teve contra si uma prisão cautelar decretada. Não bastasse a prisão, teve a exposição na mídia – com ele vestido com o uniforme laranja do presídio. E para completar, foi afastado da faculdade.

Amigo de infância do reitor, Desembargador do TJ-SC e Professor Titular na UFSC, Lédio Rosa de Andrade assumiu a missão de discursar sobre o episódio. Com voz embargada, criticou a forma como operações contra corrupção têm sido conduzidas no Brasil, apontando para a forte influência midiática e de alguns setores do Judiciário.

“Em nome da liberdade de imprensa, se exerce a liberdade de empresa privada para impor desejos privados à coletividade. Em nome da liberdade de julgar, neofascistas humilham, destroem, matam.” afirmou Lédio Rosa.

Durante a fala, o desembargador relembrou emocionado os anos em que lutou ao lado de Cancellier contra a Ditadura Militar, quando foram alunos na UFSC. “A ditadura não nos prendeu e nós achávamos que tínhamos a derrubado, cometemos um erro, porque os ditadores de espírito nunca morrem (…) essa luta não acaba” disse.

“Carlos se deparou com a mais perfeita ditadura, que é a ditadura feita em nome da moral, que é a ditadura feita em nome da Justiça, que é a ditadura feita em nome da democracia” completou. 

O professor de Direito da UFSC encerrou sua fala chamando a atenção para a atual conjuntura do Brasil e aos frequentes ataques que vem sofrendo a democracia. “A vida é luta permanente e a democracia não permite descanso”, disse, “só a tragédia pode chamar a atenção de uma população que vive uma histeria coletiva”.

Foto: Henrique Almeida/Agecom/UFSC

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